Tópico sobre política
Moderator: Rui Santos
Re: Tópico sobre política
José Miguel, em França e em Itália, todos os filmes recebem a classificação etária "Para Todos"? Quais são as faixas de classificação que existem nesses países, e, mais importante, por que razão consideras que existem?
É que dar dois exemplos específicos, fora do contexto geral daquilo que se passa nesses países, pode dar uma ideia diferente acerca de uma realidade que não existe.
Em França ou Itália estarás sujeito ao mesmo tipo de "controlo estatal" sobre as obras cinematográficas tal como tens cá em Portugal, variando apenas os casos em que são aplicados, e conforme a equipa responsável decidir em cada situação.
Controlo esse com o qual de resto concordo na sua totalidade, sem considerar que é "censura" e porque entendo que a educação moral e social deve ser dada de acordo com a maturidade (física e mental) das crianças, e com o seu grau de exposição à sociedade.
nota: sou agnóstico, mas concordo, de forma não extremista, com alguns modelos sociais e ensinamentos católicos, assim como discordo de outros.
É que dar dois exemplos específicos, fora do contexto geral daquilo que se passa nesses países, pode dar uma ideia diferente acerca de uma realidade que não existe.
Em França ou Itália estarás sujeito ao mesmo tipo de "controlo estatal" sobre as obras cinematográficas tal como tens cá em Portugal, variando apenas os casos em que são aplicados, e conforme a equipa responsável decidir em cada situação.
Controlo esse com o qual de resto concordo na sua totalidade, sem considerar que é "censura" e porque entendo que a educação moral e social deve ser dada de acordo com a maturidade (física e mental) das crianças, e com o seu grau de exposição à sociedade.
nota: sou agnóstico, mas concordo, de forma não extremista, com alguns modelos sociais e ensinamentos católicos, assim como discordo de outros.
Last edited by Samwise on January 30th, 2017, 11:32 pm, edited 1 time in total.
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Re: Tópico sobre política
Eis uns exemplos do paraíso socialmente avançado que é a França:
http://www.sabado.pt/cultura_gps/cinema ... de_18.html
http://www.uai.com.br/app/noticia/cinem ... stas.shtml
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Re: Tópico sobre política
Depois voltarei, mas queria deixar aqui um post do Walter Hugo Mãe no Facebook.
E já agora o quote do Nuno Markl onde está este post do WHMWalter Hugo Mãe wrote: Ver o meu romance, "o nosso reino", reduzido a duas frases, e por duas frases julgado, é sintomático do tempo de sentenças sumárias em que vivemos. Opinar passou a ser uma espécie de chelique imediato em que a maioria dos opinantes não sabe o que está em causa; não sabe, por isso, o que está a dizer.
"o nosso reino" é a narrativa de uma criança de oito anos, de profunda candura, que ausculta a figura de deus numa tristeza grande pelos infortúnios da vida. Entre os assuntos que magoam esta criança estão as terríveis palavras que lhe dizem sobre a tia e, mais tarde, sobre um tio que chega de França. Essas duas passagens, no cômputo do livro inteiro, estão como punhais no peito puro da criança, e quem lê o livro não se choca com as palavras, choca-se com a tristeza e o desamparo de que se fala.
Nos meus livros é-me comum abordar o abandono a que somos votados. Sou, desde sempre, impressionado pela solidão e "o nosso reino" é um retrato de uma solidão espiritual a partir do vulnerável ponto de vista infantil.
Lamento que quem discuta acerca do desconforto de alguns pais, de jovens de 14 anos, com "o nosso reino", pareça ter-se esquivado a ler o livro e a perguntar se o choque provocado vem da sua efectiva leitura ou das duas frases que se autonomizaram sem contexto, parecendo sugerir que a obra é um exercício de perversão.
Não sou professor, fui aluno e tive 13 e 14 anos, como é bom de ver. Não me compete ajuizar da adequação de um livro a uma determinada idade escolar. Mas sei que o escândalo normalmente está na competência, ou falta dela, com que se abordam os assuntos. E sei que ter 13 e 14 anos não é uma deficiência, é um tempo natural de descobertas e de maravilha.
Acho muito bem que os pais que considerem os seus filhos imaturos para lerem determinadas obras os orientem noutras leituras. Como acho muito bem que os pais que reconheçam maturidade aos seus filhos os acompanhem em leituras desafiantes, no sentido de verdadeiramente esperar algo dos jovens que não seja apenas fútil e sempre adiado.
Sou a favor de não se tratar os jovens como estúpidos. Falta-lhes informação, mas a grandeza e a complexidade humanas estão plenamente contidas em alguém de 14 anos de idade. Importa saber se queremos fazer de conta que existem crianças com essa idade ou se preferimos atentar no esplendor do aparecimento de um ser mais pleno, perto de estar inteiro.
Seja como for, o que me compete dizer é que o meu livro não é um torpe discurso. É, muito ao contrário, uma exposição enorme de ternura. Para não o perceber basta não ler.
*
"a santidade era uma coisa para todos os dias, mas era difícil. porque a vontade de me manter santo não me assistia da mesma forma, alguns conseguiam destruir-me por dentro a esperança de os salvar."
in "o nosso reino"
Fonte: https://www.facebook.com/Valter-Hugo-M% ... f=NEWSFEED
Mas prometo aqui voltar quando houver tempo. Acho é que o que merece ser discutido é o facto (Livro do WHM no plano nacional de leitura) e não as reações nas redes sociais.Nuno Markl wrote: Isto que o Valter diz é perfeito. Vivemos na era da descontextualização, do julgamento pronto-a-comer, do não pensar, dos 140 caracteres; temos toda a tecnologia do mundo ao serviço de nos tornar mais medievais. Gostava também de dizer que quando era miúdo dei Gil Vicente na escola. Não era meigo nos conteúdos e no palavreado, o bom velho Gil - mas ninguém se queixava, nos anos 80, e não era porque o mundo fosse mais atrasado. Curiosamente, era porque o mundo era mais evoluído - pelo menos havia contexto e reflexão.
(Ah, e não havia redes sociais.)
in: https://www.facebook.com/nunomarkl/?hc_ref=NEWSFEED
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Re: Tópico sobre política
Muito boa resposta do autor.
Gostei de ler este texto mais extenso e cuidado, em detrimento das duas ou três frase apropriadas pela comunicação social que andam por aí nos jornais.

Last edited by Samwise on January 31st, 2017, 11:52 pm, edited 1 time in total.
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Re: Tópico sobre política
Claro que o autor vai defender a sua obra, se o não fizesse e que estranhava. Eu continuo com a minha opinião, e acho muito bem que o livro tenha saido da lista de recomendações pra alunos de 3o ciclo.
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Re: Tópico sobre política
Eu, adorei a resposta do autor, e a frase do NM "temos toda a tecnologia do mundo ao serviço de nos tornar mais medievais."... é absolutamente excepcional também.
Se há coisa que detesto nas redes sociais (e tem muitas coisas boas sem dúvidas), é as mentiras, as manadas de partilhas sem sequer uma pessoa se preocupar com as fontes, a falta de cuidado na escrita. Ao fim ao cabo é um café gigante, onde de um lado há sites que lutam pelos clicks, do outro há pessoas que partilham sem sequer ler o que partilham e pelo meio os geniais manipuladores de informação. Transformou toda a gente num perito em tudo...
Na notícia original do expresso (e como já aqui disse, apesar das criticas é o único jornal que compro regularmente)... falta: quem, o quê, onde, como, quando e porquê... parece claramente algo que foi escrito com base num pai que se queixa, e depois não sabemos desde quando o livro está no plano nacional de leitura, quem o colocou no plano nacional de leitura, em que classificação etária está, o que é o plano nacional de leitura, e é obrigatória a sua leitura... tudo em prol de uma polémica que dê click, e publicidade gratuita.
Sem querer mudar de assunto, lembra a polémica da semana passada provocada pelas declarações de um gerente da padaria portuguesa, que numa entrevista tem declarações sobre o salário minimo... e daí passa-se a uma polémica nas redes sociais (estão a ver o padrão), que depois passa para um programa de televisão, e depois criticas nas redes porque os amigos não falam do assunto...e criticas a um texto delicioso do Quintela. Toda a gente a opinar com base apenas numa entrevista de 5 minutos... e fica ai o facto jornalístico da semana. Nestas coisas detesto as manadas... e acho que o principio básico do jornalismo é centenas de vezes violado em prol dos clicks e da publicidade. (mas sobre este assunto poderemos voltar mais tarde)
Voltando à notícia:
O plano nacional de leitura nas há mais de 10 anos, por obra de um governo do PS, e nasceu para fomentar a leitura e apresentação de obras de qualidade numa sala de aula, e com a ideia por detrás de incentivar à leitura de livros de qualidade.
Noto nas minhas filhas de 14/17 anos, que ao longo do seu percurso escolar, além dos livros obrigatórios que tem de ler (Maias, Memorial do Convento... etc) tem também trimestralmente de fazer uma apresentação sobre um livro à sua escolha. Na escola delas não é obrigatório que esse livro a apresentar seja do PNL. A grande vantagem destas apresentações... é o conceito básico de leitura e até o conceito do fórum. Apresentar uma obra, e dizer porque gostámos dela, ao efetuar esta apresentação somos avaliados pela nossa capacidade de expressão, e pela forma como interpretamos a obra ao mesmo tempo que cativamos os nossos pares para a leitura de algo que nos agradou. Claro que o livro escolhido deve ser discutido com a professora... claro que existem livros mais apropriados e livros menos apropriados, claro que a sensibilidade de uma turma de 12 anos é diferente de uma de 15 anos...
O que aconteceu no liceu Camões, não foi até agora para mim claro... foi o professor que escolheu o livro? Escolheu o livro por estar no PNL e não o leu? será mesmo que o livro deve estar resumido aquelas duas expressões usadas para o soundbyte e discussão nas redes sociais?, será que Walter Hugo Mãe é um autor acessível para crianças de 13 anos? Vejo pouca discussão sobre isto... e isto para mim são os factos.
A religiosidade do nosso país, a censura etc acho que não fazem aqui sentido. Claro que com esta discussão a obra quase que pode ser chamada de erótica... mas de memória não haverá passagens equivalentes nos Maias ou nas Viagens da minha terra? Será que repararam que no PNL há milhares de livros? Entretanto o suposto lapso (nunca iremos saber se foi um lapso ou é agora reinterpretação foi corrigido.
Siga para bingo, e ainda bem que temos um PNL e que os nossos estudantes hoje em dia leêm muito mais obras na sala de aula em trabalho do que no meu tempo.
Fica o link que importa: http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt/
Mais do que censura... a guerrilha política que se vive atualmente em Pt, pode esta notícia fazer parte dela... diria que ao atacar o PNL e a suposta falta de qualidade do mesmo, é mais uma forma de atacar o ministro da educação... (e sobre isso, ... colégios privados... diz-vos algo?)
Se há coisa que detesto nas redes sociais (e tem muitas coisas boas sem dúvidas), é as mentiras, as manadas de partilhas sem sequer uma pessoa se preocupar com as fontes, a falta de cuidado na escrita. Ao fim ao cabo é um café gigante, onde de um lado há sites que lutam pelos clicks, do outro há pessoas que partilham sem sequer ler o que partilham e pelo meio os geniais manipuladores de informação. Transformou toda a gente num perito em tudo...
Na notícia original do expresso (e como já aqui disse, apesar das criticas é o único jornal que compro regularmente)... falta: quem, o quê, onde, como, quando e porquê... parece claramente algo que foi escrito com base num pai que se queixa, e depois não sabemos desde quando o livro está no plano nacional de leitura, quem o colocou no plano nacional de leitura, em que classificação etária está, o que é o plano nacional de leitura, e é obrigatória a sua leitura... tudo em prol de uma polémica que dê click, e publicidade gratuita.
Sem querer mudar de assunto, lembra a polémica da semana passada provocada pelas declarações de um gerente da padaria portuguesa, que numa entrevista tem declarações sobre o salário minimo... e daí passa-se a uma polémica nas redes sociais (estão a ver o padrão), que depois passa para um programa de televisão, e depois criticas nas redes porque os amigos não falam do assunto...e criticas a um texto delicioso do Quintela. Toda a gente a opinar com base apenas numa entrevista de 5 minutos... e fica ai o facto jornalístico da semana. Nestas coisas detesto as manadas... e acho que o principio básico do jornalismo é centenas de vezes violado em prol dos clicks e da publicidade. (mas sobre este assunto poderemos voltar mais tarde)
Voltando à notícia:
O plano nacional de leitura nas há mais de 10 anos, por obra de um governo do PS, e nasceu para fomentar a leitura e apresentação de obras de qualidade numa sala de aula, e com a ideia por detrás de incentivar à leitura de livros de qualidade.
Noto nas minhas filhas de 14/17 anos, que ao longo do seu percurso escolar, além dos livros obrigatórios que tem de ler (Maias, Memorial do Convento... etc) tem também trimestralmente de fazer uma apresentação sobre um livro à sua escolha. Na escola delas não é obrigatório que esse livro a apresentar seja do PNL. A grande vantagem destas apresentações... é o conceito básico de leitura e até o conceito do fórum. Apresentar uma obra, e dizer porque gostámos dela, ao efetuar esta apresentação somos avaliados pela nossa capacidade de expressão, e pela forma como interpretamos a obra ao mesmo tempo que cativamos os nossos pares para a leitura de algo que nos agradou. Claro que o livro escolhido deve ser discutido com a professora... claro que existem livros mais apropriados e livros menos apropriados, claro que a sensibilidade de uma turma de 12 anos é diferente de uma de 15 anos...
O que aconteceu no liceu Camões, não foi até agora para mim claro... foi o professor que escolheu o livro? Escolheu o livro por estar no PNL e não o leu? será mesmo que o livro deve estar resumido aquelas duas expressões usadas para o soundbyte e discussão nas redes sociais?, será que Walter Hugo Mãe é um autor acessível para crianças de 13 anos? Vejo pouca discussão sobre isto... e isto para mim são os factos.
A religiosidade do nosso país, a censura etc acho que não fazem aqui sentido. Claro que com esta discussão a obra quase que pode ser chamada de erótica... mas de memória não haverá passagens equivalentes nos Maias ou nas Viagens da minha terra? Será que repararam que no PNL há milhares de livros? Entretanto o suposto lapso (nunca iremos saber se foi um lapso ou é agora reinterpretação foi corrigido.
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Fica o link que importa: http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt/
Mais do que censura... a guerrilha política que se vive atualmente em Pt, pode esta notícia fazer parte dela... diria que ao atacar o PNL e a suposta falta de qualidade do mesmo, é mais uma forma de atacar o ministro da educação... (e sobre isso, ... colégios privados... diz-vos algo?)
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Re: Tópico sobre política
Não fico minimamente ofendido com opiniões divergentes.No Angel wrote:Claro que o autor vai defender a sua obra, se o não fizesse e que estranhava. Eu continuo com a minha opinião, e acho muito bem que o livro tenha saido da lista de recomendações pra alunos de 3o ciclo.
Em todo o caso, lembro-me da revista mais apetecida por mim (e por todos o que andavam no liceu) com 12/13/14 anos era a Gina... e sobre os textos da mesma saltemos à frente.
Mas acho perfeitamente normal, que este livro esteja classificado para 15-18 anos, até porque pela linguagem e forma de escrita do WHM me parece bem mais agradável/perceptível nessa altura.
Para que conste, eu dei no secundário (escola pública Filipa de Lencastre) todos os cantos dos Lusíadas, incluindo a ilha dos amores, Bocage, e alguns dos sonetos picantes do Camões... Lembro-me mais ao pensar em cenas picantes da Gina

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Re: Tópico sobre política
Eu sinceramente não me lembro particularmente dos cantos da Ilha dos Amores, mas do que dei na escola não tinha nada de especial?! E Camões não usava aquele tipo de linguagem de baixo nivel nos Lusiadas, para mim a questão é essa, não é a sensualidade de uma cena.Rui Santos wrote:Não fico minimamente ofendido com opiniões divergentes.No Angel wrote:Claro que o autor vai defender a sua obra, se o não fizesse e que estranhava. Eu continuo com a minha opinião, e acho muito bem que o livro tenha saido da lista de recomendações pra alunos de 3o ciclo.
Em todo o caso, lembro-me da revista mais apetecida por mim (e por todos o que andavam no liceu) com 12/13/14 anos era a Gina... e sobre os textos da mesma saltemos à frente.
Mas acho perfeitamente normal, que este livro esteja classificado para 15-18 anos, até porque pela linguagem e forma de escrita do WHM me parece bem mais agradável/perceptível nessa altura.
Para que conste, eu dei no secundário (escola pública Filipa de Lencastre) todos os cantos dos Lusíadas, incluindo a ilha dos amores, Bocage, e alguns dos sonetos picantes do Camões... Lembro-me mais ao pensar em cenas picantes da GinaIsto apenas para dizer que os professores tem muito mais latitude por vezes do que se pensa. Ao fim ao cabo são humanos como todos nós.
No 11º ano dá-se Os Maias, que tem como tema central um amor proibido entre dois irmãos, e eu não vejo problema nenhum nisso, pois aos 16 anos já se consegue distinguir bem ficção da realidade, existe outra maturidade. Por isso é que falei especificamente no terceiro ciclo, e não no secundário, porque os alunos do secundário tem muito mais maturidade e capacidade de analisar as coisas do que os alunos do 3º ciclo. Nestas idades 2/3 anos fazem muita diferença mesmo.
Quanto a essas apresentações de livros, os meus professores davam livre escolha, desde que não fossem livros infantis ou algo do genero (refiro-me aqui ao secundário), pois o que eles queriam mesmo era que lêssemos um livro maior e com alguma densidade, e os alunos da minha turma no geral não gostavam de ler... nunca gostei desse tipo de apresentações, mas lembro-me especialmente de dois livros que apresentei, que foram por mim escolhidos: "Jane Eyre" da Bronte e "3096 Dias" da Natasha Kampush. No primeiro caso acho que a professora deve ter ficado chocada por um aluno de 15/16 anos ir escolher de livre vontade um livro de mais de 500 paginas do seculo XIX, mas apeteceu-me e eu adorei aquele livro na altura, foi simplesmente genial. Depois o "3086 Dias" tinha passagens muito difíceis, era um livro com muito sofrimento... mas a mensagem no total era ótima, era uma batalha de uma rapariga que sofreu coisas inimagináveis, e no final venceu. E eu relatei as coisas que ela passou durante aqueles anos na apresentação, e nem a professora nem os alunos viram nada de mal ou desadequado naquilo. Mas isto foi no secundário, onde já existe uma maturidade muito maior.
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Re: Tópico sobre política
No outro dia, quando desatinei com essa notícia de removerem um livro no plano nacional de leitura, por conter palavrões, perdi mesmo a calma e o auto-controle.
Já estava "cego" e com "fúria", perante a situação, que nem sequer li com atenção os comentários dos outros forenses, e entrei logo a matar...
A forma como escrevi fez-me perder qualquer eventual razão que eu tivesse.
Eu nem sei se quero discutir mais o assunto, nos tempos mais próximos, mas quero dizer aqui duas coisas:
1) No atraso social/moral de Portugal na classificação etária dos filmes, eu culpo a religião/instituição católica portuguesa, de causar esse atraso, em relação à Itália e à França.
2) Como bem observado pelo Sam, os exemplos avançados da classificação "Para Todos" dos filmes "Ao, Le Dernier Neandertal"", e "Maléna", em França e Itália, respectivamente, são dois casos concretos que envergonham Portugal, mas são as excepções nos dois países, que fizeram avançar a moral europeia. Para o meu hobby de investigação (recolha de dados) que ando há anos a fazer acerca da queda da censura moral-religiosa no cinema da Europa, estes dois casos são tão importantes como o filme de 1976 "Vícios Privados, Virtudes Públicas", em que o cineasta da Europa de Leste, foi preso e condenado a prisão em Itália, devido ao filme, sendo a pena depois revogada, em tribunal de recurso, devido à qualidade do filme, ou a situação da tentativa de censura do filme "Império dos Sentidos", por um elemento da Instituição da Igreja Católica portuguesa, a actuar em nome da Igreja, contra a liberdade do povo português.

Já estava "cego" e com "fúria", perante a situação, que nem sequer li com atenção os comentários dos outros forenses, e entrei logo a matar...
A forma como escrevi fez-me perder qualquer eventual razão que eu tivesse.
Eu nem sei se quero discutir mais o assunto, nos tempos mais próximos, mas quero dizer aqui duas coisas:
1) No atraso social/moral de Portugal na classificação etária dos filmes, eu culpo a religião/instituição católica portuguesa, de causar esse atraso, em relação à Itália e à França.
2) Como bem observado pelo Sam, os exemplos avançados da classificação "Para Todos" dos filmes "Ao, Le Dernier Neandertal"", e "Maléna", em França e Itália, respectivamente, são dois casos concretos que envergonham Portugal, mas são as excepções nos dois países, que fizeram avançar a moral europeia. Para o meu hobby de investigação (recolha de dados) que ando há anos a fazer acerca da queda da censura moral-religiosa no cinema da Europa, estes dois casos são tão importantes como o filme de 1976 "Vícios Privados, Virtudes Públicas", em que o cineasta da Europa de Leste, foi preso e condenado a prisão em Itália, devido ao filme, sendo a pena depois revogada, em tribunal de recurso, devido à qualidade do filme, ou a situação da tentativa de censura do filme "Império dos Sentidos", por um elemento da Instituição da Igreja Católica portuguesa, a actuar em nome da Igreja, contra a liberdade do povo português.


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Re: Tópico sobre política
@Jose Miguel, todos por vezes erramos :) e é normal quando um tema nos inquieta que entremos a matar.
Do império dos sentidos... acho que já por aqui escrevi. É um bom filme, mas tem cenas de sexo explícito. Isso não me incomoda, mas deve ser referido na classificação do filme. Apenas difere de pornografia por ter argumento, cinematografia, história... Prefiro que seja classificado com M/18 do que censurado. É um dos casos em que se o filme for censurado perde o sentido.
O escândalo provocado pela exibição dele num canal público, só foi ampliado por alguns jornais irem à procura da notícia entrevistando um padre que viu o filme. Poucos anos depois surge o canal 18... e ai nada mais se falou (tenho ideia do filme ter sido exibido ai em 1986... e da TV Cabo surgir em 1991/2...
@No Angel, lembrei-me agora de um livro que de memória tem passagens com linguagem equivalente (estou a falar de memória) e que muito jovens liam com 12/13 anos. Christiane F / Os Filhos da Droga.
Pelas tuas palavras deves ser um 10 anos mais novo do que eu... eu nunca tive de apresentar um livro na escola..., mas as tuas escolhas foram sem dúvida diferentes para os livros que os teus amigos terão apresentado.
Do império dos sentidos... acho que já por aqui escrevi. É um bom filme, mas tem cenas de sexo explícito. Isso não me incomoda, mas deve ser referido na classificação do filme. Apenas difere de pornografia por ter argumento, cinematografia, história... Prefiro que seja classificado com M/18 do que censurado. É um dos casos em que se o filme for censurado perde o sentido.
O escândalo provocado pela exibição dele num canal público, só foi ampliado por alguns jornais irem à procura da notícia entrevistando um padre que viu o filme. Poucos anos depois surge o canal 18... e ai nada mais se falou (tenho ideia do filme ter sido exibido ai em 1986... e da TV Cabo surgir em 1991/2...
@No Angel, lembrei-me agora de um livro que de memória tem passagens com linguagem equivalente (estou a falar de memória) e que muito jovens liam com 12/13 anos. Christiane F / Os Filhos da Droga.
Pelas tuas palavras deves ser um 10 anos mais novo do que eu... eu nunca tive de apresentar um livro na escola..., mas as tuas escolhas foram sem dúvida diferentes para os livros que os teus amigos terão apresentado.
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Re: Tópico sobre política
O assunto do livro com "linguagem imprópria" sugerido no Plano Nacional de Leitura, abordado no Governo Sombra. É logo no início.
http://www.tsf.pt/programa/governo-somb ... 50975.html
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Re: Tópico sobre política
Resumo estatístico sobre 10 anos de IVG em Portugal:
http://expresso.sapo.pt/multimedia/259/ ... nos-de-IVG
http://expresso.sapo.pt/multimedia/259/ ... nos-de-IVG
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Re: Tópico sobre política
Tinha partilhado esse link no meu FBSamwise wrote: February 11th, 2017, 11:22 am Resumo estatístico sobre 10 anos de IVG em Portugal:
http://expresso.sapo.pt/multimedia/259/ ... nos-de-IVG

É um excelente vídeo, tudo muito explicadinho, para se perceber como a demagogia marcava esta discussão.Rui Santos wrote: Espero que dê que pensar, afinal o caos não se instalou, e descobriu-se que ninguém aborta por prazer. O facto de não ter morrido ninguém nestes 10 anos devia merecer mais tempo de antena.
Ninguém aqui defende o aborto, mas a acontecer que seja em condições dignas. Foi há 18 meses que tentaram fazer regredir este "progresso". Não esquecer nunca este vídeo, quando aparecer mais um debate.

Já agora no expresso de hoje, está um artigo da mesma jornalista, mas não acrescenta nada de relevante ao vídeo.
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Re: Tópico sobre política
Concordo. Faltam algumas informações que no entanto gostava de perceber:Rui Santos wrote: February 12th, 2017, 12:54 amTinha partilhado esse link no meu FBSamwise wrote: February 11th, 2017, 11:22 am Resumo estatístico sobre 10 anos de IVG em Portugal:
http://expresso.sapo.pt/multimedia/259/ ... nos-de-IVGcom o seguinte comentário.
É um excelente vídeo, tudo muito explicadinho, para se perceber como a demagogia marcava esta discussão.Rui Santos wrote: Espero que dê que pensar, afinal o caos não se instalou, e descobriu-se que ninguém aborta por prazer. O facto de não ter morrido ninguém nestes 10 anos devia merecer mais tempo de antena.
Ninguém aqui defende o aborto, mas a acontecer que seja em condições dignas. Foi há 18 meses que tentaram fazer regredir este "progresso". Não esquecer nunca este vídeo, quando aparecer mais um debate.
Já agora no expresso de hoje, está um artigo da mesma jornalista, mas não acrescenta nada de relevante ao vídeo.
1 - Como foram apurados os números relativos às interrupções pré-IVG legal. É que podem eventualmente ser bem superiores ao indicado.
2 - Qual o número de mulheres que ficaram mutiladas para o resto da vida, para além de impossibilitadas de ter filhos, ao terem recorrido a técnicas de aborto em locais não especializados, e feitos por pessoas sem habilitações técnicas para tal (situação a que esta lei veio colocar um termo). É muito relevante, sem dúvida, falar das mortes que deixaram de ocorrer, mas falta saber das outras situações que ficam no "silêncio".
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Re: Tópico sobre política
Ainda sobre a questão da IVG, eis um texto notável, e ao mesmo tempo arrepiante (pela realidade que mostra ainda existente no mundo), de Alexandra Lucas Coelho para o Público.
Vale a pena visitar o link do artigo, por causa do mapa-mundi colorido que aparece no final.
Vale a pena visitar o link do artigo, por causa do mapa-mundi colorido que aparece no final.
Aborto: quanto mais pobre, mais criminoso
1. A noite de 28 de Junho de 1998 foi das mais tristes na democracia portuguesa. Um terço dos eleitores tinha ido às urnas e recusara despenalizar o aborto, por uma nesga (51 por cento). Não se tratava de “aprovar” o aborto (nenhuma lei no mundo o “aprova”), apenas de aceitar que não devia ser crime, e punível com prisão. Isto, num país em que mulheres ainda morriam de aborto clandestino, outras eram denunciadas, condenadas como pecadoras, até julgadas em tribunal (como veio a acontecer em 2001 a 17 mulheres na Maia). Um país refém de uma campanha terrorista pelo Não, em que católicos ultraconservadores manipularam imagens chocantes, sujeitando maiores e menores a uma distorsão obscena da realidade. Vivíamos num estado laico, democrático havia 24 anos, mas de repente não parecia. Por omissão, medo ou fé, Portugal ainda era, afinal, o país sem olhos e sem boca de um poema de Ruy Belo, aquele em que dois terços não foram votar, e em que no fim do referendo o líder político da campanha terrorista, Paulo Portas, pôde aparecer a celebrar vitória. Ou seja, a celebrar, sem pudor político nem piedade cristã, uma abstenção de quase 70 por cento, e que mulheres continuassem a ser criminosas por abortarem. Este ufanismo aconteceu, Portugal já-democrático foi assim, e isso ainda teve consequências devastadoras para mulheres da minha geração.
2. Esse primeiro referendo sobre despenalização do aborto foi um choque tão grande que era difícil não ficar descrente quanto a uma segunda tentativa. O julgamento das 17 mulheres na Maia (aquilo que supostamente não aconteceria, porque nunca chegaríamos a esse ponto) voltou a dar força ao debate, muita gente depois se foi mobilizando. A 11 de Fevereiro de 2007, a abstenção caiu e a despenalização foi aprovada. Nem nove anos depois do primeiro referendo já não estávamos no mesmo lugar. O terrorismo de alguns sectores do Não perdera terreno. Objectivamente, perdeu. E, à distância destes dez anos, isso parece cada vez mais remoto e irreversível.
3. Desde então, houve outras mudanças decisivas no quadro legal relativo a sexualidade e procriação. Gays passaram a poder casar e adoptar. Mulheres solteiras podem fazer inseminação. Tornou-se muito mais difícil impôr um padrão “normal” de casal ou de família. Para quem tem agora 18 anos imagino que seja remoto pensar num país em que as mulheres se esvaíam em sangue na mão de parteiras, tinham de ir a Espanha em sigilo serem inseminadas, ou qualquer pessoa não podia casar com alguém do mesmo sexo. Esse foi o país em que vivi muito tempo de adulta, e vale a pena manter a memória em alerta, porque é perigosamente fácil voltar atrás. O mundo ameaça todos os dias com retrocessos nos direitos LGBT e na IVG legal, União Europeia incluída (Espanha, França). Qualquer português hoje tem a lei do seu lado para namorar/casar com quem quiser, e recorrer ao Serviço Nacional da Saúde para o que há dez anos era clandestino. Quem tem 18 anos já cresceu com emoticons de casais homo e hetero, e de famílias de várias espécies no smartphone. Mas ainda pode ser espancado por homofóbicos de madrugada no centro de Lisboa. E por cada caso no centro de Lisboa, multiplique-se a pressão no interior do país, sobretudo a Norte.
4. A hipocrisia em relação ao aborto foi o meu primeiro choque com a política brasileira, quando cobri a campanha presidencial de 2010, em que Dilma Rousseff veio a suceder a Lula da Silva. Em nome de um suposto “pacto de governabilidade” (leia-se, para não perder votos neo-evangélicos), a despenalização do aborto era um meio-tabu para a candidata vencedora. Os brasileiros elegiam uma ex-guerrilheira que não, não ia combater aqueles números obscenos de mulheres mortas em abortos, de uma mulher a abortar clandestinamente a cada minuto, de uma em cada cinco brasileiras já terem abortado no escuro. O Brasil tinha um governo supostamente de esquerda, uma igreja católica com tradição de defesa dos movimentos sociais e, ao mesmo tempo, um crescente exército anti-despenalização, em nome de um Cristo que faria vergonha a Cristo. Eram, são, sobretudo ou mais despudoramente, os neo-evangélicos, mas também católicos. Vi-os na visita do papa Francisco ao Rio em 2013, a colarem aqueles cartazes obscenos de fetos nas praças, pura violência para gerar terror indiscriminado: terrorismo. Esse foi o ano em que, ao mesmo tempo muitas e contraditórias lutas rebentaram nas ruas do Brasil, e entre elas as das mulheres, anti-machistas e reclamando o direito à despenalização do aborto. Creio que nunca as mulheres brasileiras foram tão activas, visíveis e audíveis como desde então. Mas estão longe de ser a maioria, é o que as eleições depois mostram. O ano de 2016 acabou com uma boa notícia: o Supremo Tribunal Federal declarou, num caso, que aborto até três meses de gestação não era crime, abrindo um precedente. Mas semanas antes o “bispo” Crivella, da Igreja Universal do Reino de Deus tinha sido eleito prefeito do Rio de Janeiro. É ele quem está no poder agora, com um discurso bem mais atrás que o do papa. Em 2016, Francisco deu um passo: decretar que qualquer padre pode perdoar a uma mulher que aborte. Não tira que para a igreja católica continue a ser pecado, mas se o fim dessa condenação puder diminuir a violência exercida sobre muitas mulheres no mundo já valerá a pena. Entretanto, no revelador mapa-mundi das leis de aborto, o Brasil continua a ser aquela imensa mancha vermelha.
5. Basta olhar esse mapa para ver dois hemisférios quase sem excepção. A parte de cima do globo é quase toda verde: a dos países em que o aborto é legal para qualquer mulher que o solicite. A parte de baixo é quase toda vermelha, laranja ou amarela, consoante os vários graus de penalização. Excepções penalizadoras na parte de cima: Irlanda, Polónia, Finlândia. Excepções despenalizadoras na parte de baixo: Uruguai, África do Sul, Austrália, Cambodja, Vietname. Mas a tendência geral do quadro é esta: no Norte rico, o aborto não é crime; no Sul pobre, o aborto é crime. E claro que nesse Sul pobre as mulheres da elite terão sempre os recursos dos ricos, viajarem para o estrangeiro, contratarem os melhores médicos, como acontece no Brasil, onde quem tem dinheiro, ou pode pedir emprestado, muitas vezes vem a Lisboa. Quem morre, quem é denunciado, quem corre o risco de ser presa é pobre. Quanto mais pobre, mais criminoso: é uma história possível do mundo, onde a cada nove minutos uma mulher morre de aborto clandestino.
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.
«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death
Câmara Subjectiva
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