The Hustler (1961) - Robert Rossen
Moderators: waltsouza, mansildv
The Hustler (1961) - Robert Rossen

The Hustler / A Vida é um Jogo

I'm gonna beat him, mister. I beat him all night and I'll beat him all day. I'm the best you've ever seen, Fats. Even if you beat me I'm still the best.
«A Vida é um Jogo» apresenta uma das personagens mais memoráveis da carreira do lendário ator Paul Newman, "Fast Eddie" Nelson, cuja história de vida continuaria, vinte e cinco anos depois, numa sequela não tão aclamada como o filme original, realizada por Martin Scorsese e com o nome «A Cor do Dinheiro». Mas centremo-nos em «A Vida é um Jogo»: é um filme que criou um dos mais memoráveis personagens do Cinema Americano e que, apesar de todo o seu ar de anti-herói, é uma das figuras mais acarinhadas pelo imaginário das fitas dos States. E apesar de ser um filme que tem o bilhar (e o fascínio de Eddie pelo desporto) como ponto central, é mais uma obra que lida com um grande "character study" das várias personagens que a protagonizam (Eddie, a sua namorada Sarah, o mestre do bilhar Minnesota Fats e o apostador pouco escrupuloso Bert Gordon) do que com o jogo propriamente dito (apesar da câmara seguir e captar profundamente os grandes momentos de jogo e as grandes táticas do bilhar das disputas que a narrativa nos conta, utilizando ângulos muito favoráveis e uma montagem muito bem construída). Contudo, é por causa do jogo que toda a história se desenrola, e é o bilhar que acaba por condicionar as vidas das figuras do filme. «A Vida é um Jogo» é uma adequada tradução não em relação ao título original (que é, pura e simplesmente, «The Hustler»), mas sim em relação às temáticas do filme e à mensagem de vida que transmite: a existência humana é como um jogo, cheio de obstáculos e de armadilhas que o Homem tem que ultrapassar, e muitas vezes, para conseguirmos atingir os sonhos que tanto ambicionamos, o preço a pagar pela execução dos mesmo é muito elevado e pode trazer consequências que não conseguimos até prever, quando temos de tomar alguma decisão delicada que envolva algum desses ditos sonhos (porque, e como dizia o poeta, "O Sonho comanda a Vida"). Mas é de ambição que se faz «A Vida é um Jogo», da persistência de "Fast Eddie" Felson em querer derrotar o aparentemente invencível Minnesota Fats (Jackie Gleason), num duelo de gigantes que pretenderá vencer durante muito tempo, não olhando a meios para poder atingir os seus inacreditáveis fins. E no meio disto, há sempre muitas apostas a serem feitas e, por isso, o dinheiro está constantemente a circular...
"Fast Eddie" Felson não se cansa do seu objetivo, e a sua ambição parece não ter limites: ele faz mesmo de tudo para vencer e para continuar a dar que falar no mundo quase "subterrâneo" e escondido do bilhar, onde o perigo espreita e os interesses dos mais endinheirados também vêm ao de cima (e isto é muito evidente na personagem de Bert Gordon - o inigualável George C. Scott, que recusou a nomeação ao Oscar atribuída pela Academia por esta grande interpretação - que, ao ver Eddie tão determinado em arrumar Minnesota Fats, decide usá-lo para ganhar mais umas massas, ensinando-lhe, como diz a sinopse do filme, a "cruel arte de vencer"). Mas a persistência de Eddie, e a forma como isso o leva a ser derrotado em algumas partidas de bilhar ou a meter-se em sarilhos por causa das suas jogadas, interroga-nos se ele terá mesmo talento, ou se tudo aquilo não passa, pura e simplesmente, de um grande golpe de sorte. No excelente final do filme tudo ficará esclarecido, quando Eddie defronta, por uma última vez, o estranho mundo do bilhar e do dinheiro que o envolve, revelando ainda mais o seu temperamento desafiador e o "descaramento" que tem em relação aos que o rodeiam. Mas Eddie é uma pessoa com problemas e um indivíduo difícil de lidar, e daí, conhece Sarah (Piper Laurie), ume mulher algo perturbada que o segue e que acaba por sofrer as consequências da sua ambição descontrolada e pelo facto de não querer continuar a ser um "perdedor" nem de não saber nunca quando deve desistir, para o seu próprio bem (o que causa um dos grandes momentos de clímax da narrativa). No fundo, Eddie só pretende, como qualquer ser humano, integrar-se num determinado ambiente e impor-se perante os outros. Quer ser ele próprio e só pede que se faça notar no meio do pessoal. Mas será que conseguirá atingir o reconhecimento que tanto anseia? Será que as noitadas de jogo e de apostas trarão alguns frutos para ele e não para o seu pseudo-manager, que ganha mais do que ele pelas disputas em que participa? E por fim, será que Eddie perceberá que não só de ambição vive o Homem?
«A Vida é um Jogo» é, justamente, um clássico do Cinema por três razões: por ter conseguido fazer um retrato tão negro da vida sem cair em facilitismos ou clichés (utilizando o preto e branco para realçar a dureza dos ambientes em que Eddie entra e onde joga bilhar), algo que deve muito ao seu realizador, Robert Rossen; por ter essa personagem lendária (magistralmente interpretada por Paul Newman, com uma humanidade e uma simplicidade extraordinárias) e com quem nos conseguimos identificar tão bem, mesmo que nunca nos tenhamos confrontado com uma situação deste tipo; e pelo argumento, baseado no livro homónimo de Walter Tevis, que foi construído de uma forma elegante e que os atores souberam aproveitar muito bem nas suas excelentes performances. «A Vida é um Jogo» é um filme do público, mas que não deixa de ser (apesar de filmes ditos "populares" poderem ser, muitas vezes, muito mal conotados - e injustamente) uma excelente peça de Cinema, feita de coisas simples que acabam por se tornar bastante complexas quando as olhamos mais de perto, tal como o filme nos mostra. Esta é uma daquelas fitas que nos quer dar algumas pistas sobre o jogo da vida através de uma ficção que tem tanto de realidade como a existência de cada um dos seus espectadores. E não é por causa dos filmes que a nossa vida pode mudar, mas a Sétima Arte pode ajudar a abrir a nossa visão das coisas para perspetivas mais abrangentes e problemáticas. «A Vida é um Jogo» consegue fazer isso e, melhor ainda, ainda é um filme muito negro hoje, pela maneira realista e sem pretensiosismos como filma as deambulações de "Fast Eddie" Felson. Porque todos ambicionamos algo na vida, mas talvez não conseguimos perceber que tudo o que é ambicionado tem um preço, mesmo que lutemos o mais que conseguirmos pelos nossos sonhos...
* * * * *
Re: The Hustler (1961) - Robert Rossen

Excelente filme, o bom sabor dos velhos tempos! Duas horas e catorze minutos de um filme de referência na História do Cinema. A preto-e-branco, um filme dramático, intimista, uma verdadeira janela para o passado e para um determinado tempo distante mas que fascina, como é geralmente acontece com os grandes clássicos. Um Paul Newman em princípio de carreira, uma sempre fascinante Piper Laurie, um Jackie Gleason maior do que a vida e que podia a meu ver ter sido irmão do Johnny Goodman.

Chamo a atenção para a edição da foto, um bluray com legendas pt-br daquelas mesmo muito muito boas, quase não se nota a diferença.
Mas o mais importante são os extras que constam desta edição e que foram uma verdadeira e excelente surpresa! Aliás acho muito estranho, pois se existem edições que merecem uma informação na capa a dizer "Edição especial de Colecionador" penso que esta seria sem dúvida uma delas!

Atentai então, oh amigos cinéfilos:
- Milestones in Cinema History: The Hustler (28,04)
- The Hustler: The Inside Story (24,32)
- Paul Newman: Hollywood's Cool Hand (43,44)
- Swimming with Sharks: The Art of the Hustle (09,38)
- Paul Newman's at Fox (27,11)
- Jackie Gleason: The Big Man (12.04)
- The Real Hustler: Walter Travis (18,55)
- Life in the Fast Lane: Fast Eddie Felson and the search for Greatness (11,49)
- Trick Shot analysis by Mike Massey (13,51)
- How to make the shot wit Mike Massey (03,41)
São 3 horas e 11 minutos de extras fabulosos, como já não se fazem, mais o comentário áudio do filme (legendado em inglês), introduzido por Stuart Galbraith, e que tem os comentários e reflexões de:
- Carol Rossen (filha do realizador, Robert Rossen)
- Paul Newman
- Dede Allen (film editor)
- Ulu Grosbard (assistant director)
- Richard Schikel ( Time Magazine's Film Critic)
- Jeff Young (writter-producer)
- Stefan Gierasch (actor who plays "Preacher")
Recomendo este filme e esta edição vivamente!
Sei que saíu uma edição especial nacional com dois discos em dvd em Portugal, que não sei se corresponde a esta edição em bluray. Se alguém puder, confirme por favor.
Abraços e bons filmes.
Cabeças


- Rui Santos
- Site Admin
- Posts: 6208
- Joined: June 4th, 2001, 11:42 pm
- Location: Portugal - Lisboa / MAC
- Contact:
Re: The Hustler (1961) - Robert Rossen
É sem dúvida um excelente filme, e um complemento obrigatório à sequela dos anos 80, The color of money / A cor do dinheiro.
Eu tenho a edição italiana, legendas Pt-Pt (penso serem diferentes, mas como dizes é muito ténue a diferença)
Os extras penso serão os mesmos.
https://www.amazon.it/-/en/dp/B0051CTSMI
Ainda está disponível, e volta e meia entra em saldos. Obrigatório sem dúvida.
Eu tenho a edição italiana, legendas Pt-Pt (penso serem diferentes, mas como dizes é muito ténue a diferença)
Os extras penso serão os mesmos.
https://www.amazon.it/-/en/dp/B0051CTSMI
Ainda está disponível, e volta e meia entra em saldos. Obrigatório sem dúvida.
Rui Santos - 54 Anos | 23 Anos DVDMania
DVD/BR | Jogos | Life is Short, Play More | FB Collectors HV-PT
DVD/BR | Jogos | Life is Short, Play More | FB Collectors HV-PT
Re: The Hustler (1961) - Robert Rossen
Tenho a edição em 2 discos DVD e creio que tenha mais ou menos os mesmos extras, sim.