Million Dollar Baby (2004) - Clint Eastwood

Discussão de filmes; a arte pela arte.

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palmm
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Post by palmm »

Malick wrote:Penso então que a maior parte dos realizadores, actores e críticos que se fartaram de elogiar e enaltecer o MDB (muito antes de ter ganho os Oscars) devem andar com o subconsciente bem influenciado, ou então nunca viram um filme do Clint, porque senão topavam logo que ele faz sempre a mesma coisa desde que iniciou a carreira.
Acho que desconheces grande parte da carreira do Clint. O homem protagonizou western spaghettis, interpretou o Dirty Harry, realizou filmes como Firefox, A Escalada ou A Barreira de Fogo (todos muito maus), e nem tudo o que dirigiu teve a mesma recepção ou êxito (Meia-noite no Jardim do Bem e do Mal, por exemplo). Em termos temáticos, deve ser dos realizadores cuja carreira conheceu maior alteração.

Os detratores deste MDB estão a recorrer a um argumento muito questionável ao dizer que as pessoas que gostaram do filme só gostaram porque é um filme de Eastwood. Isso é passar um atestado de ignorância ou estupidez aos q gostaram do filme. Cada obra é uma obra.
PMM
palmm
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Post by palmm »

Ricardo Ribeiro wrote:
Deixa-me que te diga que estás a limitar o teu conceito de pessoas ao teu círculo. Pega em ti, vai à feira de Domingo, e pergunta lá ao primeiro vendedor de farturas o que acha ele de Mozart.
Provavelmente o vendedor de farturas nunca terá tido oportunidade, paciência, condições económicas e culturais, para ouvir, apreciar, estudar, entender Mozart. Portanto, a opinião dele será assim tão relevante e determinante para classificar a obra de Mozart como de qualidade artística ou não? Será uma opinião válida para as questões do gosto, das condições do acesso à cultura, etc, mas não propriamente à qualidade artística da obra de Mozart... Assim como os musicólogos não serão determinantes para a determinação da qualidade gastronómica da fartura do senhor. Podem emitir uma opinião de gosto, mas falta-lhes a formação específica em culinária para poderem emitir juízos muito profundos sobre a qualidade de confecção, proporções dos ingredientes, etc.
Paulo, a ti só te digo uma coisa: a próxima vez que fores ao dentista, vá, assume-te, deixa-te de escapismos e pede ao doutor que te passe ácido nas gengivas em vez de anestesia; é evidente que não te terão bastado as noites sem dormir de toda a semana anterior; é preciso intervir, tomar conhecimento do funcionamento do sistema nervoso, não virar a cara ao conhecimento do mecanismo da dor. Não vais querer que o bom do homem de bata esconda a realidade, pois não?
Mas isso é algum argumento? Tu por acaso coibes-te de passar por bairros de lata? Viras a cara quando encontras um pedinte? Escolhes apenas ruas onde sabes que não corres o risco de encontrar sem abrigo? Sim, são imagens que nos causam desconforto, mas por muito que queiramos, há realidades às quais não podemos fugir. E se o dentista me disser que não pode dar mais anestesia mas que tem de fazer o trabalho dele, o que posso eu fazer? Fugir?
Ah! Aqui já não te posso acusar de te limitares ao teu círculo pessoal de conhecimentos, sem dúvida alguma. É que pelo menos eu não tenho o prazer de conhecer alguém que confunda a realidade com cinema.
Olha que te enganas. Pergunta o conceito de "amor" a qualquer pessoa jovem - e não só - em teu redor e verás que muitas vezes a definição está repleta de clichés provenientes do cinema. Por exemplo a história do Romeu e Julieta. Nunca li a obra do Shakespeare mas no outro dia ouvi num programa televisivo (daqueles que tentam aprofundar alguma coisa...) que o cinema sempre "escondeu" a parte da história em que o Romeu estava apaixonadíssimo por outra mulher antes de conhecer a Julieta. Sim, de facto o romance assim, sem o sofrimento causado à outra mulher relegada para segundo lugar (e tantas vezes que isto acontece na vida real) fica muito mais limpa, muito mais cor-de-rosa...
Com toda a sinceridade, eu pensava que não percebia nada de cinema... estarás simplesmente a ser demagógico? É que não é preciso olhar com muita atenção para ver muito mais do que cinema de comédia no período do Estado Novo. Só para dar um exemplo: Ala-Arriba.
Sempre houve "génios" que conseguiram introduzir pequenas nuances nas obras que fizeram, em todas as épocas, em todos os lugares. Achas que os jornalistas do jornal A Bola conseguirem enganar a censura e fazer passar mensagens políticas cá para a fora, é a prova de que a censura não existiu? Basta leres qualquer livro sobre a história do cinema português para compreenderes que a produção de filmes serviu essencialmente a causa do Estado Novo. As excepções existiram pelo mérito dos seus autores e não por determinação do poder político.
Só mais uma coisa: eu gosto de cinema realista. Agora, a história de Mystic River ou de O Paciente Inglês é realista? Acham mesmo? Quais são as probabilidades daquela sequência de eventos ter sucedido na realidade?
Toda e mais alguma. És tu que estás a reduzir o mundo aos que te rodeiam. Se não tens conhecimento de histórias de vida cheias de desgraças atrozes ou resistências heróicas, na tua família / círculo de conhecidos, então serás uma pessoa de sorte. Eu conheço exemplos de histórias tão ou mais trágicas que aquela. Às vezes basta escutar as histórias que os avós contam para conhecer algumas vivências bem dolorosas (gente que passou fome, cresceu em famílias terríveis, etc.). Sinceramente Ricardo, nem acredito que um adulto possa pensar que não existem no mundo pessoas com vidas atrozes. Epá, pensa nos bordéis da Tailândia e respectiva exploração sexual de menores nas nas crianças que são abusadas sexualmente pelos pais e já tens aí exemplos bem trágicos.
Ok, enaltecimento da representação exaustiva do mal. Melhor assim?
Não. Continuo sem perceber como um filme como A Lista de Schindler pode ser conotado como "enaltecimento" de qualquer coisa relativa ao Mal.

Enaltecer
v. tr.,
elevar;
engrandecer;
exaltar;
glorificar.

Alguém consegue afirmar que A Lista de Schindler "eleva, engrandece, exalta ou glorifica" o Holocausto?!?
PMM
Malick
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Post by Malick »

palmm wrote:
Malick wrote:Penso então que a maior parte dos realizadores, actores e críticos que se fartaram de elogiar e enaltecer o MDB (muito antes de ter ganho os Oscars) devem andar com o subconsciente bem influenciado, ou então nunca viram um filme do Clint, porque senão topavam logo que ele faz sempre a mesma coisa desde que iniciou a carreira.
Acho que desconheces grande parte da carreira do Clint. O homem protagonizou western spaghettis, interpretou o Dirty Harry, realizou filmes como Firefox, A Escalada ou A Barreira de Fogo (todos muito maus), e nem tudo o que dirigiu teve a mesma recepção ou êxito (Meia-noite no Jardim do Bem e do Mal, por exemplo). Em termos temáticos, deve ser dos realizadores cuja carreira conheceu maior alteração.

Os detratores deste MDB estão a recorrer a um argumento muito questionável ao dizer que as pessoas que gostaram do filme só gostaram porque é um filme de Eastwood. Isso é passar um atestado de ignorância ou estupidez aos q gostaram do filme. Cada obra é uma obra.
palmm Conheço e bem a carreira do Clint. Estava a usar uma coisa que se chama sarcasmo em relação a um post anterior. Se é coisa que tenho feito aqui é defender o MDB. :-D
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DarkPhoenix
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Post by DarkPhoenix »

Eu gosto do "Gauntlet" ( Barreira de Fogo ).
Acho que é um excelente filme de acção, mas tinha a ideia que o realizador era o Don Siegel...

Quanto ao "Firefox", é mesmo uma peste, cheio de clichés e aqueles Soviéticos eram mesmo capazes de comer criancinhas!!
Valeu na década de 80 pelos efeitos visuais, para quem como eu é fanático por aviões.
Rui Santana
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Post by Rui Santana »

Quando o Firefox estreou há muitos anos atrás eu tinha cerca de 10/11 anos e depois de ter visto a "promo" na tv fiquei excitadissimo e só pensava em ir ver o filme.
Na altura, nao sei se voces se lembram era usual marcarem-se os filmes: "Não aconselhavel a menores de 13" e também "interdito a menores de 13" , que era o caso do firefox.
Ora se não me engano, o filme estava no Batalha (ou no Aguia??) e mesmo após o tipo da bilheteira me ter vendido o bilhete , o porteiro não me deixou entrar.
Na altura apeteceu-me apertar-lhe o pescoço, mas anos mais tarde depois de ter visto o Firefox em VHS , deu-me vontade de ir lá agradecer ao senhor.
O filme é uma boa banhada!!
:roll:
palmm
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Post by palmm »

Malick wrote: palmm Conheço e bem a carreira do Clint. Estava a usar uma coisa que se chama sarcasmo em relação a um post anterior. Se é coisa que tenho feito aqui é defender o MDB.
Ups.. :oops: Perdão...

Já agora aproveito para acrescentar um aspecto (em concordância com o dito pelo gunthi). De facto, ver no MDB (ou até no Mystic River) um filme sobre os valores do Mal... Então o MDB não é sobre o amor paternal? O carinho? A perseverança? A amizade? O sonho? Isto serão sentimentos negativos, mesmo que eivados por fases de sofrimento ou alturas de conflito? Ver o mundo a preto e branco é pensar que o Amor é só branco, que não tem fases de cinzento ou até negras. Acho eu...
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Sunkid
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Post by Sunkid »

Bem, devo dizer que tinha acompanhado esta thread até ir ver o filme hoje, e um bocado daquela conversa do " Só é bom porque é realizado pelo Clint Eastwood" tinha-me ficado na cabeça e entrei no filme a pensar que não ia gostar do filme blablabla.

Mas..este não é apenas o melhor filme do ano, e por uma enoooooooorme margem ( não penso que o Aviador seja um grande filme, quanto mais dos melhores do Scorsese como alguns por ai dizem ), como é um dos melhores filmes que vi nos ultimos anos. Não posso recomendar mais este filme. Simplesmente soberbo. 10/10
César Ribeiro
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Post by César Ribeiro »

Parece incrível, mas só ontem fui ver o MDB. E depois de tantas críticas positivas e negativas um pouco em toda a parte, fui ver o filme sem complexos, aspirações desmedidas. Ouvi dizer que o filme era lamechas, para outros violento, para outros demasiado previsível, etc. Acho que MDB está a pagar a factura por ter sido realizado por Clint Eastwood, e este por ter realizado "Mystic River" há tão pouco tempo. As comparações são inevitáveis...
Mas que existe uma certa "conspiração" anti-Eastwood por um lado, e por outro lado um "clube de fãs" ávido, não tenho dúvidas; e até aqui neste fórum podemos verificar isso. Desde pessoas que nem vão ver o filme mas que criticam "porque não gostam do Clint Eastwood", até aquelas que dizem que o filme é um monte de desgraças e que por isso não vão ver o filme (caramba, isso é argumento?!?). Depois temos as críticas aos clichés, à componente lamechas, à estilização bom/mau... e por fim até o de conotação pseudo-intelectual!
Sinceramente não me lembro de nenhum bom filme que não tenha algumas destes características em doses assinaláveis...
Vejamos: os "maus" do Senhor dos Anéis, Guerra das Estrelas, Indiana Jones (e isto falando nos melhorzitos) não são sempre "feios, porcos e maus", e não correspondem aos mais chapados dos clichés?
Em relação à componente lamechas, discordo. Agora tudo o envolve sentimentos é lamechas?? Então o que dizer do "Senhor dos Anéis", em que os personagens passam o filme a chorar?
Em relação aos restantes clichés...qual é o filme que não o tem?...Procurem um bom filme de terror, uma comédia, um drama... todos têm os seu clichés q.b. MDB não foge a isso ( por exemplo a cena em que Freeman dá uma lição de boxe ao fanfarrão quando este agride o "pobre miúdo lingrinhas").
Que o filme é só desgraças: e isso é lá um argumento para não ir ver o filme?!? Todos os filmes que envolvem a luta Bem/Mal não acontecem porque se deu alguma desgraça, e que no fim o herói vai resolver? Só que na vida real os bons nem sempre ganham, e desgraças é o que não falta neste mundo. E ao contrário do que li por aqui, infelizmente há desgraças bem piores a acontecer todos os dias do que a que foi apresentada em MDB ou em Mystic River. Porquê só retratar o Bem que vence sempre? Não é isso o maior dos maiores dos clichés??
Em relação a ser uma obra ou ser uma obra para um público pseudo-intelectual: Meu Deus, os filmes do Clint Eastwood?? :-D O homem anda a fazer o mesmo papel há 30 anos (como já disseram aqui) e os filmes são extremamente directos, não há lugar para intelectualismos ou segundas interpretações. Se bem que deve andar por aí muito boa gente que desconheça o passado do Clint Eastwood em termos de interpretações e realização e agora o veja como um intelectual. Mas isso é inevitável... tantas pessoas conheceriam assim o "Braindead", o "Bad Taste" e o Peter Jackson antes da famigerada saga do "Senhor dos Anéis"? E agora não é o realizador da "moda"?
Agora em relação ao filme: abstraindo-me de tudo isto e do "esperava mais", "é lamechas", etc, que ouvi, gostei. Não é um filme perfeito, como todos. Mas tem boas interpretações (Swank e Freeman),e uma fotografia fantástica. Não gostei muito da banda sonora, achei-a demasiado "ausente".
Em relação ao guião foi para mim o maior trunfo do filme. Toda a gente estava à espera de ela ir até à final e ganhar o título (o tal cliché), ou então melhor, ela depois recuperar da lesão com muita força de vontade e trabalho e depois e vingar-se da adversária que a tinha deixado escavacada (o cliché ainda maior). O que nos foi dado foi exactamente contrário; querem heróis que ultrapassam todas as dificuldades e depois são recompensados no fim? Pois, os heróis também morrem.
E é assim a vida; algumas vezes ganhamos,outras perdemos.
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Francesco Zappa
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Post by Francesco Zappa »

César,

convinha colocar avisos de Spoilers.
É inconcebível que o melhor futebol e jogadores não possam estar numa festa tão importante e bonita como o Mundial.
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Ricardo Ribeiro
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Post by Ricardo Ribeiro »

até aquelas que dizem que o filme é um monte de desgraças e que por isso não vão ver o filme (caramba, isso é argumento?!?).
Caramba, quando é que algumas pessoas vão compreender que outras pessoas são livres de ter critérios (e nenhum é melhor do que o outro) para a selecção de filmes a ver. Há-de haver os que não suportam filmes de guerra, outros não gostarão de filmes falados em castelhano, outros não querem gastar tempo a ver filmes que vão contra a sua religião, para outros ainda é este ou aquele actor que irrita bestialmente.... e TUDO isto são argumentos válidos.
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Post by brainX »

Ricardo Ribeiro wrote:
até aquelas que dizem que o filme é um monte de desgraças e que por isso não vão ver o filme (caramba, isso é argumento?!?).
Caramba, quando é que algumas pessoas vão compreender que outras pessoas são livres de ter critérios (e nenhum é melhor do que o outro) para a selecção de filmes a ver. Há-de haver os que não suportam filmes de guerra, outros não gostarão de filmes falados em castelhano, outros não querem gastar tempo a ver filmes que vão contra a sua religião, para outros ainda é este ou aquele actor que irrita bestialmente.... e TUDO isto são argumentos válidos.
Concordo contigo Ricardo.

Pessoalmente posso dizer que tenho uma enorme antipatia pelo Mel Gibson e pelo Keanu Reeves, não os suporto, e por isso não vejo filmes com eles. Sei que se calhar estou a perder bons filmes mas o facto de eu não gostar dos actores fará com que eu olhe já para o filme de forma diferente. Estarei à espera de não gostar e isso não é justo para o filme e outros actores. Por isso não vejo... Os únicos que vi foi o Matrix (o primeiro) e o Something's Gotta Give. Em ambos não gostei muito do Keanu o que só confirmou o que eu já pensava.

Ah e ainda não vi o MDB :oops:
Life's the shit that happens while you're waiting for moments that never come...
César Ribeiro
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Post by César Ribeiro »

Estou a ver que fui mal entendido... Obviamente que concordo convosco quando dizem que qualquer argumento é válido para ver ou para não ver um filme ou para qualquer outra atitude que se tem na vida. O que eu me estou a referir é especificamente a ESTE filme quando argumentam que é só um filme de desgraças, mancos e escavacados até mais não, e que por isso não vale a pena ver. E isso eu posso refutar, porque não o é. E eu posso refutar porque VI o filme. Porque se eu digo que não gosto de uma actriz porque acho que tem uma penca desgraçada e mau hálito estou no meu direito; mas se chegarmos ao extremo de medir a penca da mulher e metermos o nariz na boca dela e verificarmos que cheira a pepsodente isso deixa de ser um argumento porque não é válido, já se provou que é incorrecto.
Pois NESTE filme esse argumento torna-se absoleto na altura em que se vai ao cinema e se constata que afinal não é nenhum mar de sargaços nem de desgraças. Agora também não vou dizer que é um filme cor de rosa, aí estaria a deturpar a história.
E a esse argumento eu chamo capricho.Obviamente que toda a gente pode e deve ter os seus caprichos (quem não os tem??) e ver ou não ver o que lhe apetece. Mas convenhamos que criticar sem ver não abona nada em relação a quem critica. Imagina se vou a tribunal como qualidade de testemunha num caso em que nem estava presente na altura do acontecimento...
Por isso referi como um fraco argumento (ou capricho) este que li aqui para não ir ver o MDB; é que regra geral os caprichos não são sustentáveis por nenhuma espécie de argumentação racional (tal como este), e como já foi aqui referido até nos impede de ver bons filmes. :-D
É esta a diferença entre o argumento e o capricho.
Imagina que eu escrevia aqui ou numa revista especializada uma crítica acerca das interpretações do Tom Hanks como actor, e que mesmo sem ter visto os últimos filmes dele escrevia que "o trabalho de Tom Hanks não me convence porque não gosto de actores que já tenham trabalhado com o Leonardo DiCaprio". Claro que estou no meu direito, mas passado 15 minutos teria colegas, clientes, leitores do Forum DVD Mania e se calhar até tu a dizerem-me: "Chiça homem, mas que espécie de argumento é esse???" :mrgreen:
palmm
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Post by palmm »

Ricardo Ribeiro wrote:
Caramba, quando é que algumas pessoas vão compreender que outras pessoas são livres de ter critérios (e nenhum é melhor do que o outro) para a selecção de filmes a ver. Há-de haver os que não suportam filmes de guerra, outros não gostarão de filmes falados em castelhano, outros não querem gastar tempo a ver filmes que vão contra a sua religião, para outros ainda é este ou aquele actor que irrita bestialmente.... e TUDO isto são argumentos válidos.
Ora bem, falaste de forma sábia. Todos os argumentos são válidos, até ao momento em que se começa a querer impor uma forma de pensar e encarar o cinema ou quando se atacam as pessoas por gostarem de determinado tipo de filmes. E não é por colocarmos o famoso "IMHO" que as palavras que escrevemos deixam de ter peso...

Eu não aprecio comédias teen mas não ando a dizer ou insinuar que quem as vê são pessoas exclusivamente idiotas. Não gosto de slashers ou filmes de terror e não digo que quem os vê são pessoas exclusivamente passadas da cabeça. Etecetera. É preciso não esquecer que neste post foram as pessoas que não gostam do Clint e dos filmes que ele faz que vieram pregar a sua "religião" e tentar converter os demais... Relê as tuas frases...

"Continuarei para sempre sem compreender a apreciação positiva daquilo que supostamente tem na sua essência a transmissão de boas sensações - o cinema - para o efeito diametralmente oposto."

"O cinema seria suposto constituir a magia que falta no dia a dia de quase todos nós. Magia branca, entenda-se."

... e vê lá se não és tu que estás a defender o que é cinema e o que não é cinema? De facto, a principal magia está em respeitar todos os gostos e, se possível, juntar ao gosto alguns conhecimentos na matéria. Referir que o cinema tem a sua essência na transmissão de boas sensações é uma falácia. Os irmãos Lumiére começaram por fazer simples registos da vida real, ou seja, documentários. E o que é considerado o primeiro grande cineasta - D. W. Griffith - abordou desde logo temas como a própria intolerância como uma força destrutiva ao longo da história (precisamente em "Intolerância"). O cinema, felizmente, também faz pensar. E rir, e emocionar, e agoniar, e enternecer...
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Post by alan_smithee »

palmm wrote: É preciso não esquecer que neste post foram as pessoas que não gostam do Clint e dos filmes que ele faz que vieram pregar a sua "religião" e tentar converter os demais...
Em princípio pensei que te estavas a referir apenas ao Ricardo, mas quando referes “as pessoas”, estás a generalizar. Desta forma pergunto eu, quais pessoas é que tentaram converter os demais?

Depois partes de um pressuposto errado, quando referes que “as pessoas que não gostam de Clint e dos filmes que ele faz...” ou seja partes do pressuposto que as pessoas que não gostaram do filme, não gostam de Clint.
Ora, eu “adoro” o Clint, mas não gostei do MDB. Clint, como já referi mais atrás é o cineasta que está mais próximo do imaginário e da qualidade de John Ford. E se eu disser que Ford é para mim, o melhor cineasta americano de todos os tempos, fica-se com uma ideia de quanto eu gosto do Clint. Mas MDB não me convence.
Se você agir sempre com dignidade, pode não melhorar o mundo, mas uma coisa é certa: haverá na Terra um canalha a menos. Millor Fernandes
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Post by Kakihara »

Não te convenceu, mas convenceu os membros da Academia que votaram nele. Neste caso encontras-te em minoria.
Vou recitar aqui um exemplo. Estava a pesquisar por filmes maus no IMDB. Como estava sem ideias perguntei a colega meu por filmes que na opinião dele fossem maus. Ele começa a dizer "Lost In Translation", "Monster" e eu....Ok, diz-me agora filmes que tu tenhas curtido. E ele começa a dizer "Armageddon", "Con-Air"....
Got it? O que eu quero dizer é que o lixo de um homem pode ser o banquete de outro. Tu não gostas de um filme que a maioria aprova, mas pode acontecer o contrário e tu não gostares de um filme que a maioria detesta. Tal como eu, consigo contar pelos dedos de uma mão a quantidade de pessoas que eu conheço pessoalmente que gostaram do filme "The Beach" aquele com o Leonardo Di Caprio, eu adorei esse filme pq representa a condição humana e o que nós estamos dispostos a fazer para encontrar ou atingir a perfeição e caso a encontremos, até onde estaremos dispostos a ir para a preservar....
É tudo uma questão de gostos e perspectiva. Lá por eu não gostar de espanhóis não significa que eu não possa aprecisar o "800 Balas".
Beauty is in the eye of the beholder.
Ai wa, kanari itai.

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