[ESTREIA] O Novo Mundo

[Takeshi_Kitano]

Considerando o absoluto sucesso artístico de A Barreira Invisível, um dos grandes filmes da década de 90, as expectativas para O Novo Mundo, do mesmo realizador, eram enormes. Em teoria, a história a contar, a da relação entre Pocahontas e John Smith e consequente choque entre culturas, dificilmente se poderia adequar melhor ao registo lírico e filosófico do cinema de Terrence Malick. Para mais, o reconhecido talento dos restantes artistas envolvidos no projecto, do director de fotografia aos actores, deixava antever um épico de força arrebatadora.

De facto, a beleza das imagens fotografadas por Emmanuel Lubezki e todo o trabalho na direcção de arte aproximam o filme da perfeição técnica. Mas, não obstante a enorme sensibilidade que Malick revela (e sempre revelou) para a captação de imagens da Natureza, em enquadramentos de paisagens naturais genuinamente belos, e para arrancar dos seus actores interpretações marcadas pela espontaneidade, na verdade O Novo Mundo é um mundo cinematográfico de deficiências narrativas e automatismos de realização desinspirada. Apetece mesmo dizer que quase tudo o que resultava de forma maravilhosa em A Barreira Invisível fracassa aqui pelos mais variados motivos. Reconheça-se, ainda assim, a existência de uma primeira meia hora de cinema bastante meritosa, onde a introdução da paixão entre Pocahontas e John Smith, e a relação do capitão com um novo mundo mais próximo do paraíso e da sua utopia de felicidade, adquire por momentos contornos de um romantismo puro e envolvente. Até aqui, ainda há frequentes cenas consequentes em ideias e emoções que contribuem para desenvolvimento do filme. Revelador desta inspiração inicial é, por exemplo, o harmonioso momento em que Pocahontas se esforça em aprender a língua inglesa e acontece a primeira troca de palavras entre ela e Smith. Mas o que é desequilibrado e com pontuais rasgos de criatividade cinematográfica até ali rapidamente evolui para uma situação de equilíbrio de estagnação artístico-narrativa grandiloquente.

A exploração do Homem por oposição à Natureza, um dos temas recorrentes na filmografia de Malick, é aqui processada num completo desfasamento em relação ao núcleo dramático do filme. Dito por outras palavras, é frequente assistir-se a longos e inócuos planos de paisagens verdejantes e sequências em que as personagens vagueiam por entre árvores ou contemplam pássaros esvoaçantes, sem que haja nisso qualquer propósito, nem sequer de um ponto de vista estritamente emotivo. A câmara de Malick parece desligada das suas personagens, e sempre mais interessada num exercício de contemplação inconsequente do que em mergulhar a fundo na dimensão humana das relações entre as personagens e respectivas nuances dramáticas. O Novo Mundo é o estilo "malickiano" utilizado em piloto automático de lirismo balofo e cego na inabilidade para se adaptar às exigências dramáticas da sua história. E assim, a realização não consegue preencher os espaços em branco de desenvolvimento dramático e esquematismo na definição das personagens deixados pelo argumento. Observe-se o caso de Christian Bale: aterra no filme de pára-quedas e constitui o foco da segunda metade da narrativa, só que nem lhe é atribuída personagem para defender, nem Malick, na sua quase indigente distância contemplativa, consegue conferir um mínimo de consistência e... existência à ligação amorosa que aparentemente é estabelecida com Pocahontas. No que respeita à "voz off", é um dispostivo que quando não é desperdiçado em frases de constatação inútil daquilo que se está a ver no ecrã, envereda pela reciclagem de pensamentos filosóficos de outros filmes e que aqui surgem sem contexto que os justifiquem.

Esperava muito deste filme e não é de ânimo leve que faço tão duras críticas a um cineasta que tanto admiro. A desilusão é tanto maior quanto se vê aqui evidente potencial artístico e meios para moldar a história de Pocahontas numa obra grandiosa. A minimalista banda sonora de James Horner é esplêndida e a estreante Q'Orianka Kilcher tem uma presença notável. Mas o que fica para a posteridade é somente a desagradável memória do primeiro fracasso artístico dum realizador único.

Tiago Costa
http://claquete.blog-city.com

[jgeiras]

isto por acaso estreou cá?
não me lembro de ver isto em lado nenhum

[Skywatcher]

Antestreia? Visonamentos de imprensa (deste acho que já houve 2, salvo erro)? Assim qualquer coisa penso eu

[Laruxz]

isto por acaso estreou cá?
não me lembro de ver isto em lado nenhum

Se não houver alteração estreia a 4 de Maio.

[Johnny_Red]

Duvido que alterem a data de estreia.

[Donnie Darko]

Porquê? Já adiaram umas 3 ou 4 vezes

[Johnny_Red]

Com a data assim tao perto??

[Nuno Guerreiro]

Pois ja vi por ai a anunciarem a estreia, mas na semana passada nem no cinecartaz do publico estava agendada a futura estreia.

[Johnny_Red]

Hmmm... Acho que vi isto anunciado no Alvalaxia...

[Shivers]

Segundo a Lusomundo estreia na proxima semana, dia 4 de Maio.

[Ricardo Ribeiro]

Perante uma reflexão crítica de inquestionável valor, seguem-se nove postzinhos sobre uma data. Corresponder à iniciativa do utilizador que abriu este tópico, com as impressões próprias já deveria ser demasiado complicado..........

Cada vez estou mais desiludido com estes fóruns e com a leviandade que por cá se instalou. Reflectir? Debater? Transmitir ideias? Nada disso... ou não as há, ideias, ou então os fóruns não merecem os 5 ou 10 minutos que poderiam demorar a transmitir por escrito. Há uma expressão que por vezes se aplica, no mundo do futebol: "parece que a bola queima"... quando os jogadores abdicam de colocar em campo uma vontade de criar espectáculo e de vencer. Aqui, cada vez mais, parece que a escrita queima. O que é grave, num meio de comunicação que se baseia completamente na escrita.

Enfim... passei por este tópico para ler sobre um filme que não conheço, e para gracejar com uma situação que pensava ser parte do passado: a estreia em Portugal faz-se practicamente na mesma altura em que o DVD sai editado em R1.

[Francesco Zappa]

Ricardo,

tendo em conta que o filme estreia hoje, dia 4 de Maio e que nem todos nós temos possibilidade a visionamentos de imprensa ou a ante-estreias, parece-me algo difícil, pelo menos para já, "Corresponder à iniciativa do utilizador que abriu este tópico, com as impressões próprias"

E sim, também gostei de ler a apreciação do Takeshi, como outras dele aliás.

[Ricardo Ribeiro]

Só o próximo texto do Takeshi contém substância de análise, de forma intrínseca. De resto, é apenas um exemplo de um estado de coisas que se veio instalando por aqui, e que de tempos a tempos menciono quando assisto a situações mais concretas.

[Francesco Zappa]

Desculpa mas não Ricardo.

Apesar de verificar que o "mal" que referes se instalou de facto nos fóruns este não é o melhor exemplo disso.

Vou analisar o quê a escrita do Takeshi?

O post dele é a sua apreciação do filme, a comparação deste com as obras anteriores do realizador, o que ele gostou e não gostou. Assim sendo, e não tendo eu tido ainda a possibilidade de ver esse filme, o que quer que eu pudesse escrever seria apenas estar a "cuspir para o ar". Não vou dizer que concordo ou não só por dizer.

O que posso dizer é que fico um pouco receoso, visto gostar muito da obra de Mallick, mas espero não vir a partilhar da opinião do Takeshi.

[Edward Brock]

A maioria das críticas que tenho lido até agora assentam práticamente todas na mesma ideia, o que não pode ser bom. Ainda assim, o selo Mallick obriga-me a ir a uma sala de cinema ver este filme.

Ainda assim guardo algumas esperanças para a edição em DVD visto que aparentemente já foram exibidas umas 3 ou 4 versões diferentes do filme (se bem me lembro até a versão exibida nos cinemas dos EUA é diferente da do resto do mundo).