Interstellar (2014) - Christopher Nolan

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lud81
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by lud81 »

Hmm... Acho que não há ambiguidade que o Stay era mesmo para ele ficar, já que ele não pára de gritar "don't let me leave, Murph!" a chorar desesperado. :-))) Essa foi a primeira mensagem que ele enviou assim que chegou ao tesseract, baseada em impulso. Só depois ele se acalmou e pôs o cérebro a funcionar, apercebeu-se do que é que era o sítio onde estava e então enviou as mensagens importantes para o desenvolvimento dos acontecimentos do filme.

Acho que se quer ler significados ocultos inexistentes quando os personagens dizem sempre exactamente o que estão a fazer. :-P
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THX
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by THX »

Continuando com a minha opinião...
Fora algumas cenas muito bem feitas no espaço, acho que "Interstellar" não trouxe nada de novo ao cinema de sci-fi. E mesmo falando em imagens espaciais eu aposto que consigo ver imagens muito semelhantes num qualquer documentário recente sobre o espaço. Basta ver a série "Cosmos" nas suas 2 versões.

Vejamos :

O tema sobre os "wormholes" já está excessivamente explorado, desde o "2001" até ao "Contact".
Em "Donnie Darko" também vemos isso, assim como a respectiva explicação para que serviam estes fenómenos. O tema "tempo" foi muito bem demonstrado nesse filme também.

Em "Contact" vemos também o tema "amor sem fronteiras" entre um pai e uma filha.
Vemos isso novamente em "Interstellar".

O tema "missão espacial para salvar o nosso planeta condenado" foi visto em 2007 no excelente "Sunshine" um filme de Danni Boyle que custou apenas $26.000.000. Um filme muito bem conseguido quanto a mim e onde também podemos ver um vilão que mete o vilão deste "Interstellar" num bolso. Imagens espectaculares do espaço também não faltam nesse filme, só que toda a história é muito mais simples, e quanto a mim muito mais apelativa e interessante.

Até nisto não houve originalidade :
"The wormhole explanation using paper and pen is exactly the same as it appears in "Event Horizon"(1997)."
Os meus 200 filmes inesquecíveis :
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by lud81 »

THX wrote: Até nisto não houve originalidade :
"The wormhole explanation using paper and pen is exactly the same as it appears in "Event Horizon"(1997)."
Epá, até parece que estou a querer defender o filme com unhas e dentes, mas não é o caso. :-P Apenas estou a ver coisas apontadas como falhas, que não poderiam ser feitas de outra forma.
THX, mas um wormhole é exactamente isso, é assim que se explica o que é um wormhole. Querias que o Nolan inventasse uma nova maneira de explicar, só porque o Event Horizon ou outros inúmeros filmes já explicaram dessa forma? O conceito existe e é exactamente esse. O filme não pode fugir da realidade do conceito de wormhole, logo tem de explicá-lo da forma que deve ser explicado.

Se uma pessoa tiver uma aula de matemática sobre o que é um integral, vai obter a mesma explicação seja de que professor for, porque um integral tem uma definição concreta e precisa. Não há volta a dar. Poderá haver pessoas que expliquem melhor ou pior, com mais paciência ou menos, mas não há muito por onde fugir. E acho que o exemplo do papel para explicar um wormhole é do mais simples que há e que qualquer pessoa consegue entender, logo é a forma mais eficiente de o explicar.

Seja como for, é porreiro ver-te a "desfazer" um filme do Nolan, hehe. :-)))
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Musicslave
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by Musicslave »

eu tal como o lud também não sou defensor ferrenho nem ganho nada com isso, mas THX, acho que ao dizeres que o filme não trás nada de novo ao género, então acho que vais deixar de ver filmes, se é que já não o fizeste à alguns anos.
está tudo quase inventado, claro que vai novos filmes trazem por vezes destaques em determinadas áreas e dão largas à imaginação.

e quanto ao wormhole, o lud já disse tudo e concordo com ele
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hsintra
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by hsintra »

Ainda não vi o filme, espero vê-lo muito em breve, mas com tanta coisa que já foi dita, as minhas expectativas começam a baixar. Sou grande fã de sci-fi, principalmente deste género de sci-fi em específico...infelizmente, e desde há alguns anos para cá, este género tem-me desiludido bastante, não tem aparecido nenhum filme que realmente me deixasse de boca aberta. Isto num género de cinema que tem um sem fim de possibilidades...ficção científica, todas as portas estão abertas. Dos últimos que me deixaram satisfeitos (mas lá está, não de boca aberta) foi o Star Trek de 2009, que realmente trouxe uma lufada de ar fresco a toda a série Star Trek e abriu muitas portas para um bom futuro da mesma, que já se estava a tornar um pouco mais chata (e neste campo bem se tem destacado o J. J. Abrams), e de certa forma o District 9, num género mais terrra-a-terra. Estive com grande expectativa acerca do Ender's Game (até porque o livro é um dos melhores dentro do género), mas desiludiu-me um pouco, o mesmo aconteceu com o Oblivion e o Edge Of Tomorrow (Tom Cruise nos dois), até o Elysium, que tinha uma premissa bastante boa, ficou um bocado pelo caminho...isto para não falar no bastante mauzinho After Earth.
E agora, estava com grandes esperanças neste filme, até devido ao hype todo à volta dele, na nota do imdb (que vale o que vale), e de tudo o que se tem falado...mas face o que foi aqui dito, acho que vou ver o filme com outros olhos, e esperar que algo me surpreenda...espero que daqui a uns dias venha aqui deixar uma boa crítica, seria um óptimo sinal.

Uma sugestão a todos os realizadores (e vamos lá ver o que fazem do Star Wars...a trilogia original é apenas dos meus filmes preferidos de todo o sempre), o género sci-fi, e em particular viagens interestelares, é um mundo de inúmeras possibilidades, ainda há tanto por explorar...sejam criativos, ide mais longe, aproveitem este sem fim de possibilidades!
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by THX »

Pessoal eu não estou a tentar "deitar abaixo" o filme, apenas estou a constatar factos.
Se me perguntarem se vale a pena ir ver "Interstellar" a um cinema eu sou o 1º a dizer que sim.

Vale a pena ver este filme em IMAX?
A isso já não posso responder porque aqui no norte parece que ainda estamos numa aldeia.
Mas quem vê este filme percebe logo que o mesmo foi concebido de raiz para ser visto e apreciado numa sala IMAX.

Eu fui com o Lorde X ver o filme no dia da sua estreia e calhou-nos uma sala enorme, com uma tela a condizer e um som 5* yes-) . E as cadeiras...bem, eram um luxo e super confortáveis.
Para um maior impacto visual e sonoro "Interstellar" TEM de ser visto assim, numa sala grande.

A tal cena do pai a despedir-se da filha, e a musica que se ouve quando ele vai na carrinha para a "NASA"...é de humedecer os olhos mesmo.
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by THX »

hsintra wrote:Isto num género de cinema que tem um sem fim de possibilidades...ficção científica, todas as portas estão abertas[...] Uma sugestão a todos os realizadores (e vamos lá ver o que fazem do Star Wars...a trilogia original é apenas dos meus filmes preferidos de todo o sempre), o género sci-fi, e em particular viagens interestelares, é um mundo de inúmeras possibilidades, ainda há tanto por explorar...sejam criativos, ide mais longe, aproveitem este sem fim de possibilidades!
salut-)
Ora aqui está alguém que me compreende bem.
Esta tua ultima frase resume exactamente o que eu penso sobre a sci-fi actual.
Mostrem-nos coisas NOVAS.
E quanto aos filmes de que falas no teu post concordo completamente contigo relativamente aos que gostaste mais/menos.

Eu podia continuar a falar de filmes sobre viagens espaciais como "Solaris", "Prometheus" ou "Lost in Space", mas a verdade é que se uns dizem que já foi tudo feito e visto anteriormente eu discordo completamente. Porquê?? - porque a imaginação não tem limites.
"Avatar" foi um exemplo disso, assim como deverão ser as suas sequelas.
Aí sim, vi coisas que nunca tinha visto antes em cinema, tal como aconteceu com o "2001".

Daqui a 1 ano vai estrear outro filme de FC - "The Martian" do Ridley Scott, e para além de já saber que iremos ver novamente Matt Damon e Jessica Chastain nesse filme parece-me que vou assistir a um simples remake de algo que já foi filmado noutra altura.

O elfaria decerto que sabe a que é que eu me estou a referir.
Last edited by THX on November 11th, 2014, 1:02 pm, edited 2 times in total.
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by lud81 »

Em termos científicos, acho que o principal chamariz deste filme tem a ver com o facto de visualizar ciência real da forma que se pensa que realmente seria, baseado em cálculos matemáticos autênticos. Isso nunca foi feito até agora. Quem vai à espera de eye candy do género de Star Wars, potencialmente ficará desiludido. Star Wars e outros filmes de FC mais virados para o espectáculo são visualizações artísticas ("artist renditions", como se diz em inglês). A principal novidade de Interstellar é que mostra um buraco negro e um wormhole da forma que os cálculos dizem que são, e não como um vortex no espaço. O filme mostra coisas como "gravitational lensing" e a deformação do espaçotempo da forma que se pensa que realmente seriam. Gravitational lensing, aliás, nem é imaginado, pois há fotografias de telescópios que mostram directamente o fenómeno e é tal e qual como no filme.

Para mim, e repito, em termos científicos, esse é o principal trunfo do filme. Claro que tem outros trunfos, e aí entra a parte de ser um filme e contar uma boa história, com bons actores, música, etc, tudo o que faz um bom filme. Mas não esperem uma space opera cheia de eye candy. O filme tem muito eye candy, mas não no mesmo sentido de um Star Wars ou de um Star Trek. Tem eye candy para quem gosta do assunto e costuma seguir a verdadeira ciência retratada.

Ainda estou à espera de ver os "celebrity physicists" (pessoal como Brian Greene, Neil DeGrasse Tyson, Lawrence Krauss, etc) a comentarem o filme, só para ver o que eles têm a dizer sobre o que o filme acerta, o que falha, etc. O Neil Tyson, em particular, é um grande cinéfilo e menciona os mais variados filmes frequentemente quando fala, sejam de ciência ou não. :-) O Lawrence Krauss tem um livro chamado The Physics of Star Trek. Quero muito ouvir as opiniões deles.
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by Cabeças »

lud81 wrote: Ainda estou à espera de ver os "celebrity physicists" (pessoal como Brian Greene, Neil DeGrasse Tyson, Lawrence Krauss, etc) a comentarem o filme, só para ver o que eles têm a dizer sobre o que o filme acerta, o que falha, etc. O Neil Tyson, em particular, é um grande cinéfilo e menciona os mais variados filmes frequentemente quando fala, sejam de ciência ou não. :-) O Lawrence Krauss tem um livro chamado The Physics of Star Trek. Quero muito ouvir as opiniões deles.
O Neil já referiu em termos gerais o que achava, e é positivo. Acho que só podia ser positivo, afinal o consultor do filme, Kip Thorne, é professor de Física no Caltech. :-)))

No site abaixo estão os comentários dele no Twitter, e depois da publicidade do vídeo, aparece o Neil a ser entrevistado sobre o filme:

http://deadline.com/2014/11/neil-degras ... 201280567/
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Telmo R.
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by Telmo R. »

Here is a list of Neil deGrasse Tyson’s comments on Christopher Nolan’s Interstellar, each of which are prefixed with “In Interstellar…” (WARNING: potential spoilers for Interstellar follow)

. Experience Einstein’s Relativity of Time as no other feature film has shown.
. Experience Einstein’s Curvature of Space as no other feature film has shown.
. Relativity. Gravity. Quantum. Electrodynamics. Evolution. Each of these theories is true, whether or not you believe in them.
. And in the real universe, strong gravitational fields measurably slow passage of time relative to others. GPS satellites, located farther from Earth’s center than we are, keep faster time than do our clocks on Earth’s surface. GPS Satellites are pre-corrected for General Relativity, allowing them to beam us the accurate time for Earth’s surface.
. You enter a 3-Dimensional portal in space. Yes, you can fall in from any direction. Yes, it’s a Worm Hole.
. The producers knew exactly how, why, & when you’d achieve zero-G in space.
. You observe great Tidal Waves from great Tidal Forces, of magnitude that orbiting a Black Hole might create
. All leading characters, including McConaughey, Hathaway, Chastain, & Caine play a scientist or engineer. Of the leading characters (all of whom are scientists or engineers) half are women. Just an FYI.
. They reprise the matched-rotation docking maneuver from “2001: A Space Odyssey,” but they spin 100x faster.
. On another planet, around another star, in another part of the galaxy, two guys get into a fist fight.
. There’s a robot named KIPP. One of the Executive Producers, a physicist, is named Kip. I’m just saying.
. If you didn’t understand the physics, try Kip Thorne’s highly readable Bbook “The Science of Interstellar”. If you didn’t understand the plot, there is no published book to help you.
. They explore a planet near a Black Hole. Personally, I’d stay as far the hell away from BlackHoles as I can.

http://www.slashfilm.com/neil-degrasse- ... -comments/
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by Samwise »

Fui ontem a uma sessão nocturna no Imax. O filme está em 2D, e portanto nada de óculos nem de efeitos artificiais "terceiros" a trabalhar sobre os sentidos.

Se vale a pena ver no IMAX? Para mim, sim, e repetia a dose sem pensar duas vezes. É o tamanho do ecrã e é um poderosíssimo som de "catedral" que nos envolvem completamente. Junte-se a isso a trepidação física da cadeira (e da sala toda), por conta desta brutalidade de som em momentos chave da história, e não deve haver sala melhor em Portugal para ver o filme. Factor UAU = 100%

Quanto ao filme, por agora só 2 comentários, algo contraditórios:

1 - É (foi) uma das experiências de cinema mais singulares, fascinantes e arrebatadoras a que assisti numa sala cinema. 3 horas de filme passam em 3 segundos. A este respeito, seria difícil destronar o Gravity e sua a experiência absoluta de comunhão com o espaço sideral, mas isso de facto sucedeu com este filme, embora de uma maneira bem diferente.

2 - A nível de argumento, fui defraudado em relação àquilo que esperava encontrar num filme destes (considerando o que é/representa o 2001 nos dias de hoje), e fui defraudado pela "fé" que tinha nas capacidades do Nolan para filmar uma história destas. Não me entendam mal: o problema não é do Nolan (a meu ver, o trabalho dele neste filme é "limpinho, limpinho"), o problema é aquilo que eu imaginei de antemão que ia encontrar. Digamos que a história "dobra-se sobre si própria" (um pouco ao jeito de Inception), ao contrário do que sucede no 2001, que se "dobra para o infinito". Não espanta pois que haja respostas lógicas (e científicas) para tudo neste filme, já que...
... não há uma inteligência superior em perspectiva, há apenas o Homem e o limite daquilo que neste momento possui de conhecimentos científicos. Como disse, nada de errado com isto, apenas julguei que ia ter uma vertente mais Contact , com revelações extra-terrestres à mistura. Ainda assim, fica muito por dizer/revelar a propósito de quem plantou ali o wormhole, talvez a pensar numa possível sequela... isso é que era!!!
---

Quanto ao resto, o filme é de tal forma desmesurado e ambicioso (mesmo considerando que o seu "espaço de actuação" é circunspecto) que vai dar pano para infinitas páginas de partilha de observações. Há uma infinidade de pormenores que foram minuciosamente pensados para que o todo fizesse sentido, e é gratificante dar por cada um destes detalhes à medida que o filme se desenrola.
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.

«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death

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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by paupau »

Concordo basicamente tudo Sam. A miriade de pormenores a bater certo e para mim o ponto chave, independentemente do gostar-se ou nao do rumo da historia. A forma como a estrutura se vai desdobrando esta muito bem conseguido.
Com este filme e o inception, coloco o Nolan numa classe a parte em termos de ambicao atualmente em qualquer realizador de blockbusters ( o Rises foi um percalco). Este e uma continuacao logica da estrutura "desdobravel" do filme anterior e estou curioso em ver o que vira a seguir.
E o interstellar tem bom eye candy, como a acomplagem sincronizada com a Endurance no limite dos g's, ou o suspense da acoplagen do dr. Mann. Acho contudo que Interstellar e mind candy, longe das palhacadas SW, ST e Avatar.
Por ultimo, o Nolan continua pessimo a filmar acao. Uma cena com dois socos e duas cabecadas e a montagem do filme vai logo com os porcos, parece wue a propria fita se vai desfazer. O homem nao consegue ultrapassar essa lacuna.
CC - 174 MoC - 73 BFI - 21
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by THX »

A miriade de pormenores a bater certo e para mim o ponto chave, independentemente do gostar-se ou nao do rumo da historia. A forma como a estrutura se vai desdobrando esta muito bem conseguido.
Mas isso é exactamente o que caracteriza quase todos os filmes dos génios Nolan, daí dizerem que eles fazem filmes "inteligentes". São perfecionistas e não deixam nada ao acaso.
As respostas estão todas lá, mas a nossa capacidade de assimilação não é assim tão rápida para entender um filme desses logo assim à primeira vista. Eu tive de ver o "Memento" na sua versão cronológica mais linear para entender bem algumas cenas do filme, e isto depois de já ter visto por 2 vezes a versão original.

Mas apesar disso tudo ainda não estão ao nível do génio de um Kubrick.
Continuo a achar que uma imagem vale por mil palavras.
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by Samwise »

A abordagem de Nolan a este Interstellar faz-me de certa forma lembrar a ambição desmedida de Cimino em Heaven's Gate, não em termos narrativos ou temáticos (neste ponto são opostos: um é fatalista, o outro é optimista; um filma o desancanto do envelhecimento, o descrédito nas instituições e a falência social, enquanto que o outro celebra o espírito indomável do homem face à adversidade/perspectiva de extinção, e a esperança na continuidade da espécie pelo testemunho emocional geracional - em que o envelhecimento é entendido como um estado altruísta de ensinamento e preparação da descendência), mas na vontade dos seus autores em construirem um monumento cinéfilo perfeito, minucioso, através da inclusão e conjugação de uma enorme quantidade de elementos, vertentes e perspectivas sobre da vida do homem em sociedade.
A determinada altura, parece-me até que Nolan presta uma homenagem velada a Greed, um opus magnum "maldito" da era silenciosa, realizado em 1924 por Erich Von Stroheim, e que foi prontamente desmembrado pelos produtores de forma a reduzir o seu espaço de duração prevista inicial de 10 horas ( :!: ). Greed, que também serviu de base comparativa quando Heaven's Gate, na sua versão castrada, foi assassinado nas bilheteiras por um coro de críticas pouco interessado na promoção do benefício da dúvida. Sucede quando McConaughey e Damon (um muito greedy e insano Damon) se envolvem num combate corpo a corpo na paisagem hinóspita de um dos possíveis planetas destino para o novo berço da humanidade (com o gelo a substituir a areia quente do deserto). Um grito de protesto por parte de Nolan contra as limitações do meio comercial? Ou um simples artifício de derivação narrativa?
Creio que num plano mais generalista, mais lato, tirando para fora os respectivos contextos, os dois filmes tratam essencialmente desta questão, com o bem e o mal, o particular e o geral, a crença e o conhecimento, a emoção e a razão, a memória passada e o conhecimento presente, tudo em planos de equilíbrio precário, expostos ao longo do arco completo de uma vida.

Não resulta tão bem quando é necessário fechar o escopo sobre determinado assunto, simplesmente porque a dispersão é tanta que não há tempo para dedicar a todos com a atenção que seria necessária, e em 3 ou 4 horas de filme há que fazer escolhas. Estas escolhas implicam que determinados momentos não possam ser filmados, e que determinadas personagens não possam passar de elementos alegóricos - verdadeiros na sua essencia representativa, mas estereotipados, pouco complexos e com reduzida margem/tempo para gerar empatia, exemplos de Michael Caine, John Lithgow e Jessica Chastain, esta última a cair de paraquedas dentro de uma personagem moldada à força, a partir de uma imagem emocionalmente traída de criança (Wes Bentley e Casey Affleck não passam de meros figurantes). A alternativa é aquilo que foi tentado em Gravity, que é fechar logo esse escopo a partir do início (focando apenas uma personagem) e fazer do caso uma metáfora para humanidade.

Em Interstellar, cabe ao renascido Matthew McConaughey encher o ecrã com o seu carisma, não de forma tão determinante como noutros exemplos recentes (animalesco e dominador em Killer Joe, notávelmente contido em Mud, oscarizado e esquelético em Dallas Buyers Club e transcendente na série True Detective), mas como o apoio necessário para que a câmara ofereça ao espectador um modelo de proximidade e confiança com o qual se possa identificar. Um modelo de determinação, coragem e alguma rebeldia, sem descorar o lado sensível essencial à condição de pai. McConaughey, um actor que se encontra a viver o momento mais alto da sua carreira, dá a sensação de poder carregar facilmente com o filme às costas, mas nem Interstellar necessita de tal esforço, nem a esquematização da personagem no guião permite aproveitar ao máximo o potencial do actor (não por via da exuberancia, mas por via da subtileza). A escolha resulta numa aposta ganha, e no elenco todo apenas a pequena Mackenzie Foy se revela à altura de um confronto directo em frente das câmaras - o tempero certo para cozinhar um estado de melancolia alimentada pela culpa que atinge McConaughey ao longo da viagem. Por seu turno, calhou a Anne Hathaway uma personagem amorfa e apadada, de pouca ou nenhuma relevância narrativa, e que aparenta passar ao lado do sentido operático de transcendência pretendido por Nolan.
Parece contudo ter havido uma escolha consciente por parte de Nolan em diminuir a sua (de Hathaway) importância enquanto "ser humano capaz de registar e transmitir emocões", favorecendo em contrapartida McConaughey. Só assim se explica a estranheza/falsidade do momento em que Chastain comunica friamente a morte de Cain aos viajantes, e que soa a uma mera desculpa para abordar o "prato principal": a acusação sobre a mentira da missão e a respectiva ocultação deliberada («Nunca houve um "Plano A"!»). Quem traiu foi Cain, o pai de Hathaway, agora morto, mas quem necessita de mais apoio afectivo é curiosamente McConaughey, por efeito da acusação da filha - ora, antes de tudo, seria Hathaway a sair mais magoada dessa ideia de traição.
Acaba por haver no final um desequilíbrio vincado entre a trepidante complexidade científica e narrativa de Interstellar (um bazar cheio de eventos, "aventuras" e de projecção de expectativas face ao desconhecido - sempre amparados em promessas sucessivamente concretizadas de oferecer o mais esplenderoso "sense of wonder" visual permitido pelas tecnologias actuais de efeitos especiais) e a simplicidade simplista das emoções das personagens - verdadeiras na acepção que fazem da vida, certo, mas de fácil e superficial encenação (uma fórmula simples para "sacar" o sentimentalismo aos espectadores). Resulta, mas sabe a batota, deixa um sabor amargo na boca - porque é frustrante sentir debilidades numa estrutura grandiosa como esta, de outro modo tão bem erguida, tão cheia de virtudes e pormenores memoráveis. É talvez por aqui que não chega este filme ao estatuto de obra-prima.
Numa das rápidas panorâmicas que a câmara faz ao quarto de Murphy recheado de livros, é possível captar o título de The Stand, porventura a obra literária mais reconhecida de Stephen King, uma que lida precisamente com a queda da humanidade às mãos de um vírus assassino, e com o renascimento de pequenas comunidades humanas a partir do zero civilizacional. Não é um acaso que este livro, como outros, sejam visíveis nas pratelerias do quarto de Murphy - pequenas piscadelas de olho culturais que ficam bem a adornar o embrulho. Mas em The Stand, após a queda da civilização, os sobreviventes da razia agrupam-se em torno de dois líderes espirituais com forte representatividade religiosa (o bem e o mal, deus e o diabo). Em Interstellar não há qualquer tentativa de abordagem do divino - diria até que há um cuidado muito particular em não mencionar o assunto (a eterno debate "religião versus ciência" está ausente neste filme - thank God for that! Haha). O que há é um audacioso desvio do foco (do conforto espiritual) para a importância dos laços familiares no que respeita à fé e à formulação de valores. Audacioso, mas não totalmente conseguido. A criança Murphy contraria os ensinamentos de história na escola, favorecendo uma versão mais "romântica" narrada pelo pai e entrando em brigas com outras crianças que a marginalizam. Que uma criança idolatre um pai protector e carinhoso é um dado adquirido, mas Nolan pretende ir mais longe na demonstração dessa ideia, pretende provar esse amor inquestionável através das irreverências cúmplices entre pai e filha em relação à norma instituida, mas sobretudo firmar, nessa relação a dois que parece excluir o outro irmão, o sustentáculo lógico (tanto quanto emocional) de todo o filme. Este elo estrutural verdadeiro, mas, mais uma vez, calculista (doseado com as quantidades certas de lágrimas e consequente exploração do pathos para o resto da vida), favorece o impacto obtido no momento da separação (primeiro) e da presumida traição da confiança (mais tarde, quando as comunicações bilaterais deixam de ser possíveis entre a terra e a missão e Cain chega ao fim do seu período de vida).

A dúvida está em perceber se esta esquematização emocional é fruto do pouco tempo disponível para expôr a relação sem recurso a "corta-mato", ou se é mais um indício das limitações de Nolan na representação realista dos traços humanos/comunitários. Pelos filmes que realizou anteriormente, estou mais inclinado a acreditar na segunda hipótese. Em cima desta dúvida, surge uma outra de natureza mais pragmática e objectiva: num filme que aposta tantos créditos na força das relações entre pais e filhos, e em que se nota a preocupação extrema de fazer com que tudo bata certo, como pode a personagem do filho eclipsar-se dos últimos 10 minutos de filme, como se se tivessem esquecido dela? Nolan pode ter negligenciado este aspecto, mas poderá um pai alguma vez esquecer um filho amado?

Paralelamente, nada me tira da ideia que Nolan fez uma concesão grave à lógica narrativa, ao enviar McConaughey para o espaço com a "roupa que tinha no corpo" (em vez de condicionar essa partida espaço no período, pelo menos, de alguns dias, e em vez de explorar devidamente a origem das mensagens proféticas enviadas pelo enigmático "fantasma" - algo que poderia revelar-se problemático para o desenrolar do resto da história). Ao tomar esta opção deliberada, forçou ainda mais a artificialidade na construção emocional do momento da separação. Esse momento que é apenas a chave central de toda a sustentação afectiva de Interstellar.

Não estamos no mesmo nivel niilista de grosseirismo pateta de Prometheus, até porque as virtudes de Interstellar compensam largamente as suas debilidades, mas no final fica a ideia de que o filme resulta mais próximo de um Star-Trek mais "a sério" do que de um 2001 mais "emocional", ainda que Nolan tenha apostado seriamente na credibilidade científica da sua ficção (sacrificando com isso, em parte, a inteligência emocional e o respeito dos espectadores?). As duas descidas a terra, nos planetas desconhecidos, obedecem à lógica da resolução rápida de problemas "mecânicos" e dilemas cerebrais surgidos na hora (típicos de episódios televisivos de Star Trek), e não à exploração do mistério e da ressonância mitológica na colocação do homem face ao desconhecido - algo que vinha sendo de certa forma sugerido ao longo da viagem até aí .
Nolan não faz segredo do enorme conjunto de influências e exemplos a homenagear em Interstellar, às quais o filme deve pequenas "apropriações" referenciais de inegável sabor cultural que se manifestam um pouco ao longo de toda a narrativa. E se 2001 é a obra de mais directa identificação como matriz estrutural/narrativa para essa influência, a lista extende-se a outros marcos significativos na história do cinema de Ficção Científica, exemplos de Metropolis, Star Wars, Alien, Blade Runner, Close Encounters of the 3rd Kind; mas também a outros quadrantes menos explícitos: Reds, The Treasure of the Sierra Madre, Jaws, Zerkalo, e o saudoso e algo esquecido The Right Stuff. Poderiam ser referidos outros tantos casos de provável fonte inspiracional (mencionei o caso de Greed mais acima *), mas à semelhança daquilo que sucedeu em Inception, o filme anterior de Nolan (os mundos virtuais de Philip K. Dick vêm num instante à memória), Interstellar permanece na sua essência uma obra fresca e original (pese embora as debilidades e concessões que apontei), uma viagem espacial empolgante, recheada de "guloseimas tecnológicas" (o sal da Ficção Científica), à descoberta de possíveis realidades futuras, e que deve acima de tudo à capacidade criativa e concretizadora de Nolan, por esta altura um autor firmado por direito próprio.
(* e os planos, no final do filme, a mostrarem o interior da estação espacial Cooper, recuperam estrondosamente o nosso desejo de ver Rendezvous with Rama adaptado ao cinema)
Nota final: num período em que a ESA acaba de conseguir fazer aterrar pela primera vez uma sonda num cometa, e em que o sempre mediático programa espacial Norte-Americano permanece desaparecido das bocas da opinião pública por falta de iniciativas (e de investimento), Interstellar funciona também como uma mensagem de alerta: a NASA tem de começar a olhar para novamente para as estrelas.
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PanterA
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by PanterA »

Cheguei agora mesmo a casa de o ir ver. Não sei se vou escrever tanto como na review que fiz na altura para o Gravity, visto que este Interstellar não me está a puxar muito para isso, mas como fiz para o filme do Cuaron, dar tempo ao tempo para as ideias assentarem e depois logo opino alguma coisa. É dificil estar aqui já a dissertar com tudo muito a quente.

Mas só mesmo curiosidade, um gajo lá que pôs-se a ressonar dentro da sala até ser acordado, 4 que estavam atrás de mim estavam sempre a abrir a boca e cheios de tiques, e à saída, visto que fico sempre até a main theme acabar, a dizerem que foi uma seca de todo tamanho. Imagino terem lá ficado desde as 0h35 até as 3h50 sem vontade.

Bem... Talvez amanha já escreva qualquer coisa.

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