Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Discussão de filmes; a arte pela arte.

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BurnCycle
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by BurnCycle »

JoséMiguel wrote:
Gaspar Garção wrote:Em relação à nossa "discussão", confesso que no filme do Entre Estrelado, uma das situações que me pareceu mais inverosímel, foi as reacções da personagem do Matt Damon (ainda por cima pelo ator que é, e pelos papéis que costuma representar).

Ele é o "obreiro" de todo aquele projeto, o "melhor de todos eles", como a personagem da Anne Hathaway refere, e o que está em jogo é "apenas" a sobrevivência do ser humano, no entanto
ele é capaz de criar toda aquele artifício e patranhas, tentar assassinar a personagem do Canáguas, pôr em perigo a estação espacial, e o resto da missão, tudo porque se sentia sozinho e queria sobreviver? Então e só a ele é que lhe dá os "blues" do astronauta, a mais nenhum aconteceu isso? E durante os anos e anos e anos que esta missão foi idealizada, os problemas psicológicos dele nunca vieram ao de cima, só na altura decisiva da missão é que ele fraqueja? Enfim, é um "gimmick" que achei completamente despropositado e, lá está, incongruente e ilógico.
Esta nem seria uma situação de que apresento queixa formal, por dar o desconto ao argumentista, que não teve formação científica, mas acho que está errada pelo seguinte:
O gajo que se voluntariou para uma missão suicida arrependeu-se e sinalizou falsamente que o planeta dele era idílico. Ok, tudo bem até aqui. Mas se o gajo teve anos para pensar num alibi, ao menos usaria o alibi inteligente de dizer que houve um acontecimento cataclísmico, estilo uma colisão com um cometa, que tornou o planeta dele inabitável no espaço de anos, e não uma mentira esfarrapada em que ele é logo descoberto e implica um combate corpo-a-corpo até à morte (aqui está o realizador armado em pau-mandado dos estúdios a impôr a tal fórmula comercial de acção) mau-) O realizador queria meter ali uma cena de gladiadores à força toda, e que se dane a lógica de argumento, pois a fórmula previsível de Hollywood impõe uma cena de combate naquela altura do filme.
Este é um filme em que a ciência é escrava e está ao serviço da terrível e hedionda fórmula de cinema de Hollywood. A ciência funciona mas é apenas explorada e abusada para servir cenas de acção de cowboyadas, que não têm lógica e não fazem sentido, em nome da fórmula repetitiva e estagnada no cinema dos grandes estúdios de Hollywood.

Não sou contra o filme nem o realizador, tanto o homem como este trabalho dele têm vários méritos valentes que irei ainda referir mais tarde. Mas para dar na cabeça tenho de ser sincero... oh-)
No que diz respeito a personagem do Matt Damon, e depois de ler o comic que lançaram que serve de prequela ao que se passou no planeta em que estava, acho o comportamento normal. Aliás até vai contra um certo heroísmo que se costuma embutir nas personagens hollywoodescas em que todos são heróis e em que o conceito de auto-sobrevivência é quase sempre ignorado.
O que ele queria era sobreviver, não acabar com a missão. Quanto ao alibi fraco de que falam, o exemplo que dás é, na minha opinião, pior do que o dado. O objectivo dos reports era atrair uma nave ao planeta em questão para ele poder sair do planeta. Os relatórios tinham que ser dados periodicamente logo ele tinha que dar dados que justificassem uma descida por parte de alguém. Achas que um modelo cientificamente calculado ao longo de anos por um robot (o tal que ele desmantelou) é mais esfarrapado que um acontecimento cataclísmico que facilmente poderia ser contrariado por uma analise do robot que os acompanhava? Para mim, a cena de combate de que falas não é nada forçada, era o plano que ele tinha para se livrar de alguém que fizesse perguntas sobre o modelo que ele apresentou.
Talvez a leitura do Comic vos ajude a compreender melhor o que está por detrás dessas decisões. De qualquer forma, para mim, não vejo qualquer problema no comportamento das personagens. Pelo menos nesses casos.
Gaspar Garção
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by Gaspar Garção »

BurnCycle wrote:
JoséMiguel wrote:
Gaspar Garção wrote:Em relação à nossa "discussão", confesso que no filme do Entre Estrelado, uma das situações que me pareceu mais inverosímel, foi as reacções da personagem do Matt Damon (ainda por cima pelo ator que é, e pelos papéis que costuma representar).

Ele é o "obreiro" de todo aquele projeto, o "melhor de todos eles", como a personagem da Anne Hathaway refere, e o que está em jogo é "apenas" a sobrevivência do ser humano, no entanto
ele é capaz de criar toda aquele artifício e patranhas, tentar assassinar a personagem do Canáguas, pôr em perigo a estação espacial, e o resto da missão, tudo porque se sentia sozinho e queria sobreviver? Então e só a ele é que lhe dá os "blues" do astronauta, a mais nenhum aconteceu isso? E durante os anos e anos e anos que esta missão foi idealizada, os problemas psicológicos dele nunca vieram ao de cima, só na altura decisiva da missão é que ele fraqueja? Enfim, é um "gimmick" que achei completamente despropositado e, lá está, incongruente e ilógico.
Esta nem seria uma situação de que apresento queixa formal, por dar o desconto ao argumentista, que não teve formação científica, mas acho que está errada pelo seguinte:
O gajo que se voluntariou para uma missão suicida arrependeu-se e sinalizou falsamente que o planeta dele era idílico. Ok, tudo bem até aqui. Mas se o gajo teve anos para pensar num alibi, ao menos usaria o alibi inteligente de dizer que houve um acontecimento cataclísmico, estilo uma colisão com um cometa, que tornou o planeta dele inabitável no espaço de anos, e não uma mentira esfarrapada em que ele é logo descoberto e implica um combate corpo-a-corpo até à morte (aqui está o realizador armado em pau-mandado dos estúdios a impôr a tal fórmula comercial de acção) mau-) O realizador queria meter ali uma cena de gladiadores à força toda, e que se dane a lógica de argumento, pois a fórmula previsível de Hollywood impõe uma cena de combate naquela altura do filme.
Este é um filme em que a ciência é escrava e está ao serviço da terrível e hedionda fórmula de cinema de Hollywood. A ciência funciona mas é apenas explorada e abusada para servir cenas de acção de cowboyadas, que não têm lógica e não fazem sentido, em nome da fórmula repetitiva e estagnada no cinema dos grandes estúdios de Hollywood.

Não sou contra o filme nem o realizador, tanto o homem como este trabalho dele têm vários méritos valentes que irei ainda referir mais tarde. Mas para dar na cabeça tenho de ser sincero... oh-)
No que diz respeito a personagem do Matt Damon, e depois de ler o comic que lançaram que serve de prequela ao que se passou no planeta em que estava, acho o comportamento normal. Aliás até vai contra um certo heroísmo que se costuma embutir nas personagens hollywoodescas em que todos são heróis e em que o conceito de auto-sobrevivência é quase sempre ignorado.
O que ele queria era sobreviver, não acabar com a missão. Quanto ao alibi fraco de que falam, o exemplo que dás é, na minha opinião, pior do que o dado. O objectivo dos reports era atrair uma nave ao planeta em questão para ele poder sair do planeta. Os relatórios tinham que ser dados periodicamente logo ele tinha que dar dados que justificassem uma descida por parte de alguém. Achas que um modelo cientificamente calculado ao longo de anos por um robot (o tal que ele desmantelou) é mais esfarrapado que um acontecimento cataclísmico que facilmente poderia ser contrariado por uma analise do robot que os acompanhava? Para mim, a cena de combate de que falas não é nada forçada, era o plano que ele tinha para se livrar de alguém que fizesse perguntas sobre o modelo que ele apresentou.
Talvez a leitura do Comic vos ajude a compreender melhor o que está por detrás dessas decisões. De qualquer forma, para mim, não vejo qualquer problema no comportamento das personagens. Pelo menos nesses casos.
Obrigado pela excelente contribuição, Burn, o que interessa é discutir e ver filmes, é esse o caminho, e é isso que eu adoro no cinema (e no fórum). salut-)
Na baliza Jackson, defesa com Scorsese, Coppola, Spielberg e Eastwood. No meio campo, Ridley Scott, Wes Anderson, Pollack e Carpenter. Avançados, Woody, e solto nas alas Tarkovsky. Suplentes: Bunuel, Fellini, Kurosawa, Visconti, Antonioni, Lynch e Burton.
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by BurnCycle »

Gaspar Garção wrote: ...

Obrigado pela excelente contribuição, Burn, o que interessa é discutir e ver filmes, é esse o caminho, e é isso que eu adoro no cinema (e no fórum). salut-)
Ora essa! Estamos cá para isso! :D
Gaspar Garção
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by Gaspar Garção »

BurnCycle wrote:
Gaspar Garção wrote: ...

Obrigado pela excelente contribuição, Burn, o que interessa é discutir e ver filmes, é esse o caminho, e é isso que eu adoro no cinema (e no fórum). salut-)
Ora essa! Estamos cá para isso! :D
:-D

Levantaste foi a "lebre" do comic, de que eu já tinha ouvido falar, mas agora como é que o lemos... grr-)
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by BurnCycle »

Penso que alguém já o tinha colocado por ai, de qualquer forma aqui fica:

Image

(Clicar na imagem para ir para o comic)
JoséMiguel
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by JoséMiguel »

BurnCycle:

Tu exprimes-te muito bem, e colocas questoes pertinentes e interessantes.

Por acaso eu não concordo nada contigo quando achas que o plano mestre do "herói" que se ofereceu para suicídio, e que pelas próprias palavras dele no filme achava que o planeta dele era o planeta idílico, era fazer combate corpo-a-corpo com toda a tripulação da nave espacial do futuro, que poderiam ser 100.000 ou 1.000.000 de colonos, e o herói iria jogar "Mortal Kombat" a derrotar cem mil colonos um a um, com "flawless victories" até ao boss final do Goro que era um boneco com 4 braços... :lol:

Na verdade esse personagem é igualzinho no comportamento, a um boneco da minha infância...

Image

O Gastão!

O Pato que tinha sempre sorte, e quando ele perdia lá o trevo de quatro folhas, ficava deprimido,

Esse personagem tem o mesmo nível de maturidade, e aqui já não posso utilizar o termo juvenil, da personagem infanto-pueril do Gastão da Walt Disney. Infanto-puerial corresponde à faixa etária de 1-9 anos de idade.

Sériamente, alguém aqui no fórum acha alguma lógica a essa personagem do Interstellar, que diz "Eu voluntariei-me para a missão suicida, porque achava que o meu planeta seria O TAL, e nunca pus a hipótese de não ser"?

Isto já cai muito abaixo do conceito infanto-juvenil. O caso é grave e é preciso sacar a expressão pueril para discutir a maturidade desta personagem. O sujeito pensa que é o Gastão, primo do Pato Donald? mau-)


Amigos, só tenho uma coisa a dizer... Idade das Trevas do Cinema.
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by BurnCycle »

JoséMiguel wrote:BurnCycle:

Tu exprimes-te muito bem, e colocas questoes pertinentes e interessantes.

Por acaso eu não concordo nada contigo quando achas que o plano mestre do "herói" que se ofereceu para suicídio, e que pelas próprias palavras dele no filme achava que o planeta dele era o planeta idílico, era fazer combate corpo-a-corpo com toda a tripulação da nave espacial do futuro, que poderiam ser 100.000 ou 1.000.000 de colonos, e o herói iria jogar "Mortal Kombat" a derrotar cem mil colonos um a um, com "flawless victories" até ao boss final do Goro que era um boneco com 4 braços... :lol:

Na verdade esse personagem é igualzinho no comportamento, a um boneco da minha infância...

Image

O Gastão!

O Pato que tinha sempre sorte, e quando ele perdia lá o trevo de quatro folhas, ficava deprimido,

Esse personagem tem o mesmo nível de maturidade, e aqui já não posso utilizar o termo juvenil, da personagem infanto-pueril do Gastão da Walt Disney. Infanto-puerial corresponde à faixa etária de 1-9 anos de idade.

Sériamente, alguém aqui no fórum acha alguma lógica a essa personagem do Interstellar, que diz "Eu voluntariei-me para a missão suicida, porque achava que o meu planeta seria O TAL, e nunca pus a hipótese de não ser"?

Isto já cai muito abaixo do conceito infanto-juvenil. O caso é grave e é preciso sacar a expressão pueril para discutir a maturidade desta personagem. O sujeito pensa que é o Gastão, primo do Pato Donald? mau-)


Amigos, só tenho uma coisa a dizer... Idade das Trevas do Cinema.
Respondendo ao ponto da porrada:
Da maneira como interpretei toda essa parte, o objectivo dele era, quando tivesse a oportunidade, de fugir do planeta. Para isso tinha de ficar sozinho com uma nave para fugir do planeta. Nesse aspecto, e supondo que iria estar acompanhado de alguém, só vejo duas formas de o fazer:
- dizia a sua companhia vou fugir, espera aqui que vou pegar na nave e vou me por a andar daqui.
- punha-o fora de jogo e seguia o seu plano
Pessoalmente acho que a segunda hipótese faz muito mais sentido. ;)

Quanto ao segundo ponto, a questão do comportamento dele:
A solidão é algo capaz de mudar a melhor pessoa do mundo. Ao contrario do que possas pensar, a natureza humana, num caso destes, é bem capaz de originar reacções bem distintas numa situação destas independentemente da inteligência ou falta dela por parte do humano em questão. Pegando nisso não acho nada descabido a cena e até acho-a bastante possível numa situação real.

Claro que cada um depois tem a sua opinião do que faria. ;)
JoséMiguel
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by JoséMiguel »

BurnCycle:

Eu gostaria mais do filme, se fosse uma parte de uma trilogia estilo "O Senhor do Anéis", em que pudesse existir uma horita do filme dedicada ao tal "herói" a lidar com a solidão e a morte certa.

Mas aqui, sem cowboyadas e karaté!

A falha nº 1, como já referi é a parte em que ele diz que nunca imaginou que o planeta dele não fosse o "escolhido". Aqui eu tenho imensa pena, mas o personagem comporta-se como o pato Gastão, primo do pato Donald, que acha que acerta sempre na lotaria. Isto é um insulto tremendo à inteligência dos espectadores com mais de 7 anos de idade, por parte da equipa do realizador e argumentista. Eu agora não estou na desportiva a brincar, isto é mesmo sério e eu senti-me insultado, enquanto espectador, pois não se trata do filme "Bambi" comercializado honestamente como filme para bebés e crianças até aos 7 anos de idade.

A NASA e a ESA possuem testes psicológicos para eliminar e interditar psicopatas desses, mas julgo que não são precisos testes para perceber que o personagem é maluco.

BurnCycle, não leves a mal as parvoíces e estupidezes que eu escrevo. Isto sou apenas eu a mandar bocas de filmes que gosto ou não, e como este filme foi muito mediático, tenho mais tendência para espingardar. Ainda estou para escrever vários elogios muito merecidos ao filme... :wink:

Faz de conta que a conversa até agora, éramos nós na esplanada, arreliados à espera do pires de tremoços e das cervejas. :wink:
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by BurnCycle »

Pelo que eu entendi e que não consegues imaginar alguém tomar aquela decisão. Num mundo perfeito realmente ninguém a tomaria, mas num mundo real diria que seria 50/50 na decisão entre morrer na solidão ou tentar de alguma forma não acabar assim. Acho que ninguém é capaz de dizer que decisão tomaria sem passar por uma situação destas. Sinceramente não acredito que existam testes para evitar uma situação destas e, neste caso, como era uma situação de desespero e a NASA já praticamente não existia ainda mais duvidoso seria a aplicação de um hipotético teste destes a um membro chave da operação.

Não te preocupes, não costumo levar a mal opiniões diferentes da minha. Agora tentarei sempre argumentar as minhas opiniões. ;)
Gaspar Garção
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by Gaspar Garção »

Eu só tenho a dizer ao Zé, que a próxima vez que rever o Interstellar lhe vou estar a rogar pragas, porque estarei sempre a pensar nas suas comparações "Disney", e nunca mais conseguirei levar o filme a sério, como ele merece.

É portanto caso para dizer, como uma personagem da minha infância: "estou mesmo muito zangado!!!". como?-)

Image

Burn, obrigado pelo link para a BD, vou já lê-la. salut-)
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by JoséMiguel »

Gaspar, até me faltou o ar de tanto rir, com a tua imagem do João Bafo-de-Onça! :lol:

Por acaso não estou a ver nenhuma personagem do filme que atinja esse nível de maturidade, seriedade e credibilidade do João Bafo-de-Onça, que possui mais realismo do que os personagens deste filme, enquanto simulação do comportmento de um ser humano.

Já agora, em minha opinião sincera, o personagem principal corresponde ao sobrinho do Peninha, o Biquinho.

Se repararem no vídeo seguinte, o comportamanto de cowboy do protagonista do Interstellar, não difere muito do Biquinho, que brincava aos índios e cowboys. Ao pé dele, o idiota e trapalhão do Peninha era um sábio...

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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by PanterA »

Tenho a BD desse vídeo. Uma das melhores que li quando era puto. :D
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by Samwise »

Bom, tenho novamente de parabenizar publicamente o José Miguel pelo contributo que presta ao fórum - e ao cinema em geral. salut-)

Esta muito pouco ortodoxa abordagem via-Disney às infantilidades comportamentais das personagens do Interstellar vai ao fulcro da questão - não só neste filme, como numa certa maneira de Hollywood apresentar cinema/entretenimento aos espectadores. A diluição da fronteira entre estas duas componentes potencia precisamente a estupidificação voluntária da lógica.

A questão passa também pela extrema exposição a que somos e fomos submetidos a este tipo de abordagens. As nossas mentes já estão formatadas à aceitação incondicional (sem questionar) deste comportamentos pouco "realistas".

Apesar de tudo, a minha posição continua a ser esmagadoramente "a favor". Hollywood continua a fascinar-me infinitamente, mesmo com estes produtos mais "híbridos" que parece não saberem bem o que fazer com a herança comportamental infatilóide, quando esta é confrontada com questões que podem parecer mais propensas à seriedade (e há de facto uma diferença declarada entre um produto como o Star Trek de J.J. Abrams, que manda a seriedade e o realismo às urtigas sem com isso comprometer essência humana, entre aspas, das personagens, e este Interstellar, que como o José Miguel disse, torna as personagens reféns da narrativa).

---

Agora uma na ferradura... :twisted: ... a propósito de personagem principal do Interestellar, que brincava aos "índios e cowboys" quando o assunto era a sério - penso que foi escolhida para a missão não apesar de, mas precisamente devido a essa atitude irreverente que o caracterizava (há pessoas assim!!!) - uma norma de carácter que o fazia arriscar tudo mesmo quando havia possibilidades ínfimas de sucesso. Arriscar-se a ser bem sucedido quando muitos outros falhariam por nem sequer tentarem. É assim que o vejo fazer algumas cawboiadas ao longo do filme e justificar a sua escolha para a missão.
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.

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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by No Angel »

José, eu ainda não vi este filme, mas sinceramente acho que nem preciso de ver para discordar contigo quando falas em comportamentos ilógicos dos personagens constantemente. O ser humano é irracional, é ilógico, é muito emotivo (ainda que muitos homens gostem de fingir que não, mas são), e tudo isso e mais alguma coisa!!! Nos não somos maquinas que apenas se regem pela razão, a nao ser que sejas psicopata! O ser humano faz constantemente coisas estúpidas, e cada pessoas reage as coisas de forma diferente, la porque eu ou tu pensamos que reagiríamos de uma forma, não quer dizer que outra nao reagisse de outra completamente diferente! Nos somos 7 bilioes de pessoas, e há todo o tipo de pessoas: mais ou menos boas ou más, mais ou menos inteligentes, mais ou menos ingênuas, mais ou menos estúpidas, mais ou menos cruéis, mais ou menos egoístas, mais ou menos generosas, mais ou menos tudo e mais alguma coisa! Por isso não percebo quando atacas constantemente a representação de qualquer comportamento humano que vá contra a lógica, quando o ser humano vai contra a lógica constantemente! Mais: vai contra o seu proprio interesse! Basta veres quando as mulheres sao religiosas fervorosas, quando essa mesma religiao e contra elas, ou quando o povo vota em partidos de direita que fazem politicas que os prejudicam! E mesmo assim, o ser humano tem comportamentos estúpidos, contraditórios, incoerentes, irracionais, etc, etc! Mas atenção, esses comportamentos tem uma explicação, não acontecem a toa! Talvez critiques mais isso num filme porque não há tempo para explicar as coisas e de ir a fundo a mente/alma da personagem (ao contrario da literatura), mas o formato cinema e mesmo assim, e mais movido pelas ações externas das personagens, e não propriamente pelo que vai dentro da cabeça delas...

Isso nao quer dizer que tenhamos de aceitar tudo, e ha de facto coisas que muitas vezes nao fazem sentido, mas também acho que temos que compreender a natureza humana, e aceitar o facto de cada pessoa reagir e agir de forma diferente as situaçoes...
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Re: Interstellar (2014) - Christopher Nolan

Post by Samwise »

No Angel wrote:Isso nao quer dizer que tenhamos de aceitar tudo, e ha de facto coisas que muitas vezes nao fazem sentido, mas também acho que temos que compreender a natureza humana, e aceitar o facto de cada pessoa reagir e agir de forma diferente as situaçoes...
Atendendo ao motor matemático que rege o raciocínio do José Miguel, acho que ele faz o cálculo probabilístico da mistura destas duas situações - e as razões de queixa são já o resultado final da fórmula com essas variáveis todas consideradas. :mrgreen:

Eu concordo na essência com os problemas que ele aponta, só que sou um pouco mais tolerante na sua aceitação - não na aceitação de que tais personagens se pudessem comportar daquela maneira no mundo real, mas na aceitação de que a lógica narrativa por vezes tem de levar a melhor para que possa haver filme.

O Gravity tem não sei quantas dezenas de erros científicos e incongruências narrativas que eu consigo detectar e aceitar, mas nada disso serve para lhe cortar as vazas enquanto expriência cinematográfica.
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