Avatar: The Way of Water (2022) - James Cameron

[Luis.Manuel]

Bom, duas críticas mais ou menos opostas para começar. A denominada "crítica" também anda algo dividida entre a vacuidade da estória, a espectacularidade da acção e o empurrão tecnológico de que já estamos à espera por parte do Cameron.

Para a semana que vem devo ir ver. Vai ser 3D, mas ainda estou a ponderar se é Imax ou não.

Na verdade não são assim tão "opostas" quanto possam parecer Samwise, são duas maneiras "simpáticas" de dizer basicamente o mesmo, pois no meu texto existe uma pequena frase sublinhada que dá a entender o que penso da história contada no filme e também mais atrás quando afirmo que a nível de argumento é "básico" tal como já o tinha dito noutro post em relação ao filme de 2009. O que acontece é que o José foi mais frontal e sincero no seu comentário e eu, como grande fã da tecnologia CGI que sou (desde que em 1973 vi os primeiros modelos 3D ainda só em versão wireframe numa série da BBC) tentei valorizar apenas os aspectos positivos deste enorme progresso técnico desde o inenarrável Final Fantasy de 2001 até este Avatar de 2022 (passando pelo Valerian de 2017). Até para não influenciar eventualmente ninguém a desistir de ir ver o filme às salas e assim perder a oportunidade de julgar por si próprio. E tal como o José também eu tenho noção do enorme esforço que este filme representa e respeito isso. Portanto... nada como irem ver e depois escreveram aqui o que pensam ou então... abrir uma poll de avaliação do filme?

[Samwise]

Luis, creio que não há o "perigo" de afastar pessoas das salas à conta dos vossos textos---pelo menos no caso concreto deste filme. Quem está entusiasmado e decidido a ir não vai mudar de ideias, e os outros, que ainda estão relutantes, vão acabar por ser arrastados para dentro da sala pelos primeiros.

Na verdade, creio que esta "sequela" tem garantido, desde há treze anos, um afluxo massivo de público que quererá ver e "sentir a experiência" na sala. E em muitos casos com repetição da dose.

É verdade que as vossos comentários se focam similarmente sobre as mesmas coisas e apontam por alto as mesmas "forças e fraquezas", mas diria que a ponderação dos factores os colocam em notas "opostas". O José "menos entusiasmado", tu mais "contente".

Do meu lado, enquanto ainda estou em branco, parece que estou a assistir ao mesmo "desenrolar do processo 2009". Muita expectativa, um produto muito semelhante em todos os aspectos, e uma reação de público e crítica tirada a papel químico.

Tenho pena que o texto que escrevi na altura sobre o original se tenha entretanto perdido na trituradora do tempo (não o publiquei aqui, infelizmente), mas vai, assim por alto, ao encontro da tua opinião. Na altura fui à estreia, e voltei depois à sala para uma segunda "tareia". Não fiquei convencido com a ideia do realismo do CGI tal como estava anunciado pela máquina de marketing (em particular o das personagens), mas fiquei de barriga cheia com o espectáculo a que assisti e com a imersividade da experiência (3D incluído). Quanto ao enredo... meh... cliché, algo infantil e dejá-vu (Pocahontas, Dances with Wolves), mas sem atrapalhar a qualidade da experiência e a sua eficácia no deslumbramento. Desta sequela, espero mais ou menos o mesmo.

[siroco]

Vou ver hoje... as expectativas não são altas pelo que não devo sair desiludido. Se o outro era a Pocahontas no espaço este será a Pocahontas debaixo de água? espero que não.

Luis, gostei de rever as capas do Roger Dean, dos albuns dos Yes (best band ever!) e dos Asia. Obras de arte ao nível da música que ilustram.

[Luis.Manuel]

Luis, gostei de rever as capas do Roger Dean, dos albuns dos Yes (best band ever!) e dos Asia. Obras de arte ao nível da música que ilustram.

Viva Siroco,
obviamente também sou um grande fã dessas bandas (e da arte do Roger Dean). Pareceu-me haver uma vaga semelhança entre as paisagens imaginárias do R Dean e alguns cenários de Pandora.

[Luis.Manuel]

Diz -se por aí que o sucesso financeiro de Avatar 2 é crítico para definir o futuro das grandes produções americanas.

James Cameron’s “Avatar: The Way of Water” (Disney) fell short of (perhaps unrealistic) domestic opening expectations, by perhaps $50 million. For now, let’s defer judgment and focus on the director’s own history and the calendar rather than comparisons to past Marvel and “Star Wars” films.

Disney estimates the domestic weekend will come to $134 million, worldwide $435 million. This is phenomenal by any standards other than the franchises mentioned above. However, with an estimated cost of at least $400 million “The Way of Water” is a film that does not conform to standards.

fonte Indiewire

Há já opiniões a circular nos media especializados de que em caso de falhanço, os estúdios de Hollywood poderão enveredar uma política de priveligiar maioritariamente produções de baixo orçamento.

Obviamente que isso não põe em risco o futuro da arte cinematográfica em geral dado que há muito e bom cinema com origem nas mais variadas partes do mundo.

Por enquanto tudo isto não passa de especulação dado que o retorno financeiro deste produto será de médio, longo prazo e proveniente de mercados diversos e não apenas da exibição em salas. Para já tudo indica ser este o "grande" filme (de família) deste Natal de 2022.

[José]

Revejo-me por completo nesta opinião de João Lopes, a propósito deste novo Avatar: O Caminho da Água

https://www.dn.pt/opiniao/amp/avatar-ja ... 05339.html

[Samwise]

Revejo-me por completo nesta opinião de João Lopes, a propósito deste novo Avatar: O Caminho da Água

https://www.dn.pt/opiniao/amp/avatar-ja ... 05339.html

Vim agora da sala. Estou no pólo oposto---em completo desacordo com o texto do Lopes, e muito mais próximo da opinião do colega dele do DN. Gostei mais deste do que do primeiro capítulo, embora entenda que o enredo continua simplista, e que o filme é pobrezinho em termos de "formulação da mensagem ecológica". Mas o espectáculo é imenso, as emoções estão todas "no sítio certo" (mais do que em qualquer produto da Marvel), e a acção, para mim, está filmada de forma superior a tudo o que faz hoje em qualquer blockbuster. O Cameron continua a saber filmar muito bem sequências da acção, e nota-se a cada plano que isto é um filme do Cameron (a herança dos seus filmes passados está bem presente, em particular a de O Abismo). A última hora é uma montanha russa intoxicante (no bom sentido), plena de intensidade, tensão e... clareza. As acelerações e as aproximações de planos (ditos "zoom") não nos fazem "perder o norte", nem a quantidade de elementos em movimento simultâneo ofusca os nossos sentidos para o que se está a passar (nem percebo bem de que e que o JL se queixa neste domínio).

E desta vez também não tenho queixas em relação à tecnologia e ao CGI. Tudo TOP. Ao início a sensação é estranha, porque os nossos sentidos estão automaticamente à cata de incongruências na física dos movimentos, nas texturas, na comparação entre bonecada e mundo real, mas, sem que demos por isso, às tantas já estamos dentro do filme sem que tenhamos notado que deixámos de fazer essa "comparação". Os nossos sentidos assimilaram "a estranheza" e a coisa flui com normalidade.

O 3D é assombroso, imersivo, acrescenta dimensionalidade "para dentro" ao ecrã, tal como fazia no primeiro, mas agora melhor---de alguma forma melhor. Já devo ter visto umas dezenas de filmes em 3D no cinema, mas apenas por três ou quarto vezes considero que valeu realmente a pena. Os dois "Avatar" estão neste lote, e este segundo em particular, à frente e bem destacado. Estava a ser bom fora de água, e mal a "câmara mergulha" passa a fenomenal.

Não vi em IMAX, e estou seriamente a pensar num "segundo mergulho" para aproveitar essa mais-valia.

[Luis.Manuel]

Ao início a sensação é estranha, porque os nossos sentidos estão automaticamente à cata de incongruências na física dos movimentos, nas texturas, na comparação entre bonecada e mundo real, mas, sem que demos por isso, às tantas já estamos dentro do filme sem que tenhamos notado que deixámos de fazer essa "comparação". Os nossos sentidos assimilaram "a estranheza" e a coisa flui com normalidade.

Curiosamente também senti essa "dificuldade" nos primeiros minutos do filme, e andei à procura de uma possível explicação para tal. E a mais plausível que me apareceu foi esta:
Partes do filme estão com um frame rate de 24 fps e outras a 48 fps.
https://www.google.com/amp/s/variety.co ... 94544/amp/

https://youtu.be/ii2u-28XSPo

Será isso, Cameron a testar os limites da "persistência da visão" humana em "Avatar 2" ?

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[José]

Revejo-me por completo nesta opinião de João Lopes, a propósito deste novo Avatar: O Caminho da Água

https://www.dn.pt/opiniao/amp/avatar-ja ... 05339.html

Vim agora da sala. Estou no pólo oposto---em completo desacordo com o texto do Lopes, e muito mais próximo da opinião do colega dele do DN. Gostei mais deste do que do primeiro capítulo, embora entenda que o enredo continua simplista, e que o filme é pobrezinho em termos de "formulação da mensagem ecológica". Mas o espectáculo é imenso, as emoções estão todas "no sítio certo" (mais do que em qualquer produto da Marvel), e a acção, para mim, está filmada de forma superior a tudo o que faz hoje em qualquer blockbuster. O Cameron continua a saber filmar muito bem sequências da acção, e nota-se a cada plano que isto é um filme do Cameron (a herança dos seus filmes passados está bem presente, em particular a de O Abismo). A última hora é uma montanha russa intoxicante (no bom sentido), plena de intensidade, tensão e... clareza. As acelerações e as aproximações de planos (ditos "zoom") não nos fazem "perder o norte", nem a quantidade de elementos em movimento simultâneo ofusca os nossos sentidos para o que se está a passar (nem percebo bem de que e que o JL se queixa neste domínio).

E desta vez também não tenho queixas em relação à tecnologia e ao CGI. Tudo TOP. Ao início a sensação é estranha, porque os nossos sentidos estão automaticamente à cata de incongruências na física dos movimentos, nas texturas, na comparação entre bonecada e mundo real, mas, sem que demos por isso, às tantas já estamos dentro do filme sem que tenhamos notado que deixámos de fazer essa "comparação". Os nossos sentidos assimilaram "a estranheza" e a coisa flui com normalidade.

O 3D é assombroso, imersivo, acrescenta dimensionalidade "para dentro" ao ecrã, tal como fazia no primeiro, mas agora melhor---de alguma forma melhor. Já devo ter visto umas dezenas de filmes em 3D no cinema, mas apenas por três ou quarto vezes considero que valeu realmente a pena. Os dois "Avatar" estão neste lote, e este segundo em particular, à frente e bem destacado. Estava a ser bom fora de água, e mal a "câmara mergulha" passa a fenomenal.

Não vi em IMAX, e estou seriamente a pensar num "segundo mergulho" para aproveitar essa mais-valia.

Boa, ainda bem que o apreciaste.

Apesar de tudo, espero que o filme crie um movimento sociológico de, aos poucos, fazer os diversos públicos regressarem às salas de cinema. E que haja um investimento criativo cada vez mais estimulante na formulação deste tipo de filmes.

Sim, este novo Avatar não cai nos abismos de mediocridade fílmica de muitos objectos cinematográficos dedicados às aventuras e desventuras dos super-heróis, nem mesmo no que diz respeito às cenas ditas de acção - apesar de achar que, infelizmente, roça muito esse tipo de enquadramento, inclusive a nível dos diálogos "baratos".

Mas não achas que a avalanche de êxtases retira o impacto dramático desses mesmos momentos de êxtase? Infelizmente, aos pouquinhos, fez com que me desligasse do filme.

Sei que o Cameron ainda "ali está", mas não lhe reconheci a qualidade de sempre, em particular na gestão do espaço e tempo que o João Lopes refere. Senti aquilo bastante atabalhoado.

Enfim, é o que é para cada um de nós.

[Luis.Manuel]

Continuando a "alimentar" este tópico sobre Avatar 2 com opiniões que me parecem interessantes, (a mim obviamente, pois outros poderão ter opiniões divergentes) aqui fica agora a crítica da jornalista brasileira Isabel Boscov (com spoilers qb).




Sobre Isabel Boscov
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Isabela_Boscov

[Samwise]

Mas não achas que a avalanche de êxtases retira o impacto dramático desses mesmos momentos de êxtase? Infelizmente, aos pouquinhos, fez com que me desligasse do filme.

No meu caso considerei que houve uma intercalação equilibrada entre os momentos de êxtase decorrentes das sequências ditas de acção (e que não são apenas as de lutas e combates), e as sequências de exploração e descoberta de Pandora, que nos são servidas/vendidas pelo deslumbramento que as próprias personagens sentem, em particular a Kiri (interpretada pela Sigourney Weaver). Não me desliguei em momento algum do filme, fui antes absorvendo/assimilando cada vez mais o que o Cameron nos foi colocando no prato, com satisfação crescente. Não por acaso, utilizei a palavra "intoxicado" com um parentesis à frente, a dizer "no bom sentido", e a jornalista que o Luis partilhou a seguir fala em "enbriaguez" de forma semelhante. Em inglês, seria qualquer coisa como "I could not get enough of it".

Não creio que o impacto dramático tenha sido sacrificado, porque o Cameron vai gerindo a conta gotas (com uma boa dose de "esquematismo" e "manipulação") alguns "sacrifícios necessários" ao longo da saga. Há vidas que se perdem e dor que preenche o ecrã logo a seguir.

A propósito do esquematismo, considerdo que a mensagem ecológica "faz das suas" e condiciona e estica por vezes a narrativa do filme para zonas que de outro modo não apareceriam. Aqui dou o braço a torcer, porque me pareceu excessivo e demasiado "in your face" (há uma sequência em particular, bastante "explicativa" e "demonstrativa", que aqui na terra teria um paralelo na "caça à baleia"... ).

Continuando a "alimentar" este tópico sobre Avatar 2 com opiniões que me parecem interessantes, (a mim obviamente, pois outros poderão ter opiniões divergentes) aqui fica agora a crítica da jornalista brasileira Isabel Boscov (com spoilers qb).

Uma vez mais, não é de um "mero" filme que estamos a falar, é de um espectáculo visual e sonoro que está no extremo mais avançado que a tecnologia actual pode proporcionar. A carreira do Cameron está e é pautada por momentos destes. Para mim o Cinema também é isto, e também deve ser celebrado por poder proporcionar isto.

[Thanatos]

Bem... fui ver na estreia e o melhor que posso dizer é que já não me lembro de nada, nem tenho vontade de rever. Contrasto este sentimento com a estreia de Dune que desde então já revi umas cinco vezes (pelo menos). É a diferença entre o Happy Meal e o bife do lombo.

[Samwise]

Neste filme, e como está implícito no subtítulo, o "segredo" para gostar é seguir o conselho do Bruce Lee... "Be water, my friend."

[José]

Continuando a "alimentar" este tópico sobre Avatar 2 com opiniões que me parecem interessantes, (a mim obviamente, pois outros poderão ter opiniões divergentes) aqui fica agora a crítica da jornalista brasileira Isabel Boscov (com spoilers qb).




Sobre Isabel Boscov
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Isabela_Boscov

Adoro esta grande senhora, é uma profissional de mão cheia.

[José]

Neste filme, e como está implícito no subtítulo, o "segredo" para gostar é seguir o conselho do Bruce Lee... "Be water, my friend."