Slumdog Millionaire (2008) - Danny Boyle
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Re: Slumdog Millionaire (2008) - Danny Boyle
Não, não estou. Lê com mais atenção o que escrevi. (há ali uma palavra errada. Onde está "que" devia estar "de").Gollum wrote:Estás a conceder que a crítica é uma nulidade, porque não comunica a quem não viu o filme.Samwise wrote:Mas certo, concedo que há um certo nível de abstracção e "pseudo-critica" nestas coisas, e que as afasta da percepção imediata que quem está a ler, agravando a situação para o caso dos que não viram o filme.
Nem estou a chamar ao texto uma crítica, nem estou a dizer que é uma nulidade. Antes pelo contrário, considero que é um bom resumo daquilo que o autor achou do filme. Quanto ao não comunicar com que não viu o filme, sim, aí tens razão. Diz muito pouco.
Sam
«The most interesting characters are the ones who lie to themselves.» - Paul Schrader, acerca de Travis Bickle.
«One is starved for Technicolor up there.» - Conductor 71 in A Matter of Life and Death
Câmara Subjectiva
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Re: Slumdog Millionaire (2008) - Danny Boyle
Quem não conhecer o filme e tiver lido as ultimas paginas deste tópico fica com a impressão que este filme tem sido sovado pela critica e como nós sabemos tem sido precisamente o contrario. Com 94% no rottentomatoes está muito longe desse cenário.
Para mim, como já disse atrás, é um filme fantástico e merece toda a aclamação. No domingo estarei a torcer por ele.

Para mim, como já disse atrás, é um filme fantástico e merece toda a aclamação. No domingo estarei a torcer por ele.

Re: Slumdog Millionaire (2008) - Danny Boyle
Ah, então eras tu a fazer aquele tapete de arraiolos na 5ª fila na sala 8...ASG wrote:Não me prendeu por aí além e confesso que estive a fazer outras coisas enquanto via o filme .

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Re: Slumdog Millionaire (2008) - Danny Boyle
Gostos são gostos, mas de facto este filme foi de certa forma uma desilusão para mim. Não me conseguiu entusiasmar, emocionar ou sequer por-me a pensar. À parte de uma montagem interessante com alguns planos bem conseguidos, não consigo tirar nenhum "sumo" do filme. Se calhar viu-o num dia mau; umas horas antes, tinha acabado de visionar o "Z" do Costa-Gravas.
6/10
6/10
Re: Slumdog Millionaire (2008) - Danny Boyle
Von Paulus wrote:(...)À parte de uma montagem interessante com alguns planos bem conseguidos, não consigo tirar nenhum "sumo" do filme. Se calhar viu-o num dia mau; umas horas antes, tinha acabado de visionar o "Z" do Costa-Gravas.
6/10
Está explicado então!
Admito que se tivesse visto, uma hora antes, o "Z" do Costa-Gravas, também não teria gostado do Slumdog Millionaire!
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Re: Slumdog Millionaire (2008) - Danny Boyle
O Z , na minha opinião, é um grande filme a todos os níveis e foi uma grande surpresa. Foi ainda com o Z na cabeça que visionei o Slamdog. Quer se queira quer se não, inconscientemente ou não, fazem-se comparações.Rocha wrote:[Está explicado então!
Admito que se tivesse visto, uma hora antes, o "Z" do Costa-Gravas, também não teria gostado do Slumdog Millionaire!
Ficaste ofendido? Não era esse o meu intuito.
Eu não te obrigo a gostar do Z (ou de outro filme qualquer). Mas não me obrigues a gostar do Slumdog.
Gostos são gostos.
Last edited by Von Paulus on February 23rd, 2009, 12:52 am, edited 1 time in total.
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Re: Slumdog Millionaire (2008) - Danny Boyle
muito bom filme e como não esperava muito dele quando acabei de ver fiquei completamente rendido.
a história não é nada do outro mundo, até é bem simples, mas para mim é um filme tocante, com excelentes personagens e boas interpretações (principalmente os miudos). Foi um filme que me prendeu, dei por mim a torcer pelo final feliz, que ele acertasse na ultima resposta..
um filme que também mostra o cru da sociedade indiana, mas prendeu-me por ser uma história de amor, a realidade social é só um complemento.
um filme tocante com uma bela banda sonora a acompanhar..
9/10
a história não é nada do outro mundo, até é bem simples, mas para mim é um filme tocante, com excelentes personagens e boas interpretações (principalmente os miudos). Foi um filme que me prendeu, dei por mim a torcer pelo final feliz, que ele acertasse na ultima resposta..
um filme que também mostra o cru da sociedade indiana, mas prendeu-me por ser uma história de amor, a realidade social é só um complemento.
um filme tocante com uma bela banda sonora a acompanhar..
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Re: Slumdog Millionaire (2008) - Danny Boyle
Gostei da simplicidade e originalidade do filme. Gostei da mistura do programa/realidade. Gostei de sonhar e ficar preso ao ecrã. Não gostei do final cliché. Não gostei do moral da história "destiny": o destino não existe.
Re: Slumdog Millionaire (2008) - Danny Boyle
Também não existem Aliens, mas há poucas coisas que dêem mais prazer do que ver Sigourney Weaver a matá-los.CDT wrote:o destino não existe.
It never hurts for potential opponents to think you’re more than a little stupid and can hardly count all the money in your hip pocket, much less hold on to it. --Amarillo Slim on Poker
Re: Slumdog Millionaire (2008) - Danny Boyle
Von Paulus wrote:O Z , na minha opinião, é um grande filme a todos os níveis e foi uma grande surpresa. Foi ainda com o Z na cabeça que visionei o Slamdog. Quer se queira quer se não, inconscientemente ou não, fazem-se comparações.Rocha wrote:[Está explicado então!
Admito que se tivesse visto, uma hora antes, o "Z" do Costa-Gravas, também não teria gostado do Slumdog Millionaire!
Ficaste ofendido? Não era esse o meu intuito.
Eu não te obrigo a gostar do Z (ou de outro filme qualquer). Mas não me obrigues a gostar do Slumdog.
Gostos são gostos.
Eeeerrr.... eu escrevi "Está explicado então! Admito que se tivesse visto, uma hora antes, o "Z" do Costa-Gravas, também não teria gostado do Slumdog Millionaire!"!!!
Havia de ficar ofendido porquê???
Há espera... partiste do principio que o meu comentário é irónico, mesmo que nada no texto o indique.
Hum... isso dá que pensar sobre a tua referência ao "Z", já que o Slumdog não tem nada de nada a ver com o "Z".
Pseudo-intelectualodismos-cinéfilos...
Re: Slumdog Millionaire (2008) - Danny Boyle
Um ponto muito bom do filme, que me esqueci de mencionar, é com o acompanhamento do crescimento dos miúdos, vamos também assistindo a acontecimentos importantes na história da Indía, não são o focus da lente, mas estão lá presentes... nomeadamente a intolerância religiosa.
Um gnomo por dia, dá saúde e alegria!
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Re: Slumdog Millionaire (2008) - Danny Boyle
Vejo que continuas ofendido.Rocha wrote:
Hum... isso dá que pensar sobre a tua referência ao "Z", já que o Slumdog não tem nada de nada a ver com o "Z".
Pseudo-intelectualodismos-cinéfilos...
Estás a insistir com o Z. Podia ter sido outro filme que eu achasse bom, acima da media. Por acaso foi o Z.
Não há pseudo aqui. Se tivesse sido um mau filme, se calhar a primeira impressão não teria sido tão desfavorável/negativa ao Slumdog. Ok?
Quanto ao não ter nada a ver é discutível. Do ponto vista formal até consigo comparar ambos os filmes.
Compreendeste agora?
Já percebi que és um bocado conflituoso.
Não vale a pena criares mais uma "guerrinha" com isto.
Fica bem.
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Re: Slumdog Millionaire (2008) - Danny Boyle
Sem dúvida. E ainda por cima, intolerância religiosa contra indianos muçulmanos.Insano wrote:Um ponto muito bom do filme, que me esqueci de mencionar, é com o acompanhamento do crescimento dos miúdos, vamos também assistindo a acontecimentos importantes na história da Indía, não são o focus da lente, mas estão lá presentes... nomeadamente a intolerância religiosa.
- DarkPhoenix
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Re: Slumdog Millionaire (2008) - Danny Boyle
Fui ontem ver o fenómeno, terminando assim um jejum de meio ano sem ir a uma sala de cinema.
Projecção quase excelente ( pequena desfocagem em algumas cenas, questão de minutos ) na sala 15 do UCI Arrábida, que saudades da experiência de ver um filme visualmente fascinante num ecrã destas dimensões!
Venho juntar-me ao grupo dos que vibraram com "Slumdog Milionaire".
Não me vou alongar em grandes dissertações, quero apenas salientar que este filme me deixou com um sorriso nos lábios ( e com vontade de ir a correr comprar a OST ).
Vi algum cinema Indiano na minha adolescência ( amabilidades da TV pirata cá da aldeia ), e obviamente que detestei a experiência.
Tudo tão piroso, números musicais a qualquer momento, histórias sempre em volta do mesmo, Bollywood na sua essência.
O mais recente filme do Danny Boyle ( o melhor realizador do mundo
) não vai no entanto beber dessa fonte, embora lhe faça uma homenagem absolutamente deliciosa nos créditos finais.
O que mais gostei foi mesmo a espontaneidade das personagens, o cenário da India que é uma personagem em si, a música electrizante que acompanha todo o filme, e sobretudo a espectacular montagem que consegue tirar partido das vantagens e esconder as fraquezas.
Fraquezas relacionadas com algumas interpretações sofríveis como é o caso do "Jamal" adulto.
Gostei do trabalho do Danny Boyle e acho que também ele ganha imenso com a montagem frenética e dinâmica que as suas cenas foram alvo.
Cada vez mais o trabalho do realizador e do editor estão perfeitamente interligados e funcionam em sintonia absoluta.
Como já acontecera nos filmes do Fernando Meirelles, o objectivo é captar o ritmo que a vida leva em zonas de pobreza extrema, salientando as alegrias que subsistem juntamente com a desgraça geral.
Acho que o filme tem uma excelente primeira parte, devido precisamente à forma como é retratada a sobrevivência dos miúdos.
Sei que "Slumdog Milionaire" tem dividido opiniões e não falta quem o considere um filme menor.
Eu não partilho dessa apreciação.
Poucos são os filmes que me fizeram vibrar como este.
À espontaneidade dos cenários Indianos, Danny Boyle e companhia junataram a honestidade e simplicidade da história e personagens, embrulharam tudo numa montagem caleidoscópica de ritmo, cor e música intensas, e oferecem um filme, uma verdadeira prenda que pinta um laivos de alegria e esperança.
Merece ser apreciado sem sobrancerias, o cinema é a celebração da vida.
9/10
Projecção quase excelente ( pequena desfocagem em algumas cenas, questão de minutos ) na sala 15 do UCI Arrábida, que saudades da experiência de ver um filme visualmente fascinante num ecrã destas dimensões!
Venho juntar-me ao grupo dos que vibraram com "Slumdog Milionaire".
Não me vou alongar em grandes dissertações, quero apenas salientar que este filme me deixou com um sorriso nos lábios ( e com vontade de ir a correr comprar a OST ).
Vi algum cinema Indiano na minha adolescência ( amabilidades da TV pirata cá da aldeia ), e obviamente que detestei a experiência.
Tudo tão piroso, números musicais a qualquer momento, histórias sempre em volta do mesmo, Bollywood na sua essência.
O mais recente filme do Danny Boyle ( o melhor realizador do mundo

O que mais gostei foi mesmo a espontaneidade das personagens, o cenário da India que é uma personagem em si, a música electrizante que acompanha todo o filme, e sobretudo a espectacular montagem que consegue tirar partido das vantagens e esconder as fraquezas.
Fraquezas relacionadas com algumas interpretações sofríveis como é o caso do "Jamal" adulto.
Gostei do trabalho do Danny Boyle e acho que também ele ganha imenso com a montagem frenética e dinâmica que as suas cenas foram alvo.
Cada vez mais o trabalho do realizador e do editor estão perfeitamente interligados e funcionam em sintonia absoluta.
Como já acontecera nos filmes do Fernando Meirelles, o objectivo é captar o ritmo que a vida leva em zonas de pobreza extrema, salientando as alegrias que subsistem juntamente com a desgraça geral.
Acho que o filme tem uma excelente primeira parte, devido precisamente à forma como é retratada a sobrevivência dos miúdos.
Sei que "Slumdog Milionaire" tem dividido opiniões e não falta quem o considere um filme menor.
Eu não partilho dessa apreciação.
Poucos são os filmes que me fizeram vibrar como este.
À espontaneidade dos cenários Indianos, Danny Boyle e companhia junataram a honestidade e simplicidade da história e personagens, embrulharam tudo numa montagem caleidoscópica de ritmo, cor e música intensas, e oferecem um filme, uma verdadeira prenda que pinta um laivos de alegria e esperança.
Merece ser apreciado sem sobrancerias, o cinema é a celebração da vida.
9/10
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Re: Slumdog Millionaire (2008) - Danny Boyle
Porque que Slumdog Millionaire na minha opinião é um filme telenovelesco
- Se levantarmos o “véu” do argumento, aquilo que temos por baixo é uma estrutura simplista, igual a 90% dos filmes do Bollywood (ou das telenovelas Latino-americanas), ou seja, temos – Um herói pobre - Órfão (ou que fica órfão logo no início do filme) – que passa por muitas, muitas, dificuldades – mas no final é recompensado, fica rico e com a rapariga gira.
- Este argumento simplista, é tratado com a ajuda de flashbacks, que na primeira vez em que se utiliza o recurso até chega a ser interessante, a sua repetição torna o filme enfadonho. Ou seja o que temos é basicamente isto: - o apresentador faz uma pergunta, em seguida temos um flashback explicando como o Jamal sabe a resposta a pergunta. E a cada nova pergunta, um novo flashback. E é assim até o final do filme, pergunta-flasback, pergunta-flashback.
- O filme e retractado com uma superficialidade aterradora. Todos os infortúnios ocorridos na vida do pobre Jamal são mostradas apenas com a profundidade necessária para fazer com que o telespectador sinta pena dele, apenas para identificar quem são os “bons” e os “maus”, E desta forma, fazer com que todos passem a torcer pelo rapazinho.
Recorrendo a todos os truques melodramáticos das novelas mexicanos ou indianas, para captar a atenção das plateias, Quem quer ser Bilionário? repete todos os clichés imagináveis: meninos pobres que passam por desgraças terríveis causadas por vilões muito (mas muito) maus (que cegam crianças com chumbo quente para que ganhem mais dinheiro nas ruas). A sua amiguinha Latika, tornasse-a prostituta nos bordéis de Mumbai e, o seu irmão ira juntar-se ao crime. E o filme vai assim, de desgraça em desgraça até a vitória final. Mas no fim Jamal tudo irá vencer. Os personagens são retratados como extremos de bondade ou maldade, sem espaço para um meio-termo. O intuito de todas as cenas é apenas criar o estereótipo/chliché telenovelista, da pessoa que passa por muitas dificuldades, mas que no final sera recompensada.
- Não existe a mínima contextualização. Por ex. a morte da mãe. Jamal vê mãe ser morta a paulada num conflito entre muçulmanos e hindus que chegam a queimar gente viva. Esta sequência, rápida como tudo, passa, obviamente, sem qualquer contextualização histórica ou religiosa sobre os conflitos étnicos, pelo total desinteresse de Boyle no assunto. A única “coisa” que interessa a Boyle naquela cena é “despachar” a mãe. Já não bastava o miúdo ser pobre, era necessário que ele também se tornasse órfão, a boa cartilha telenovelesca. A mãe é “despachada” com tal rapidez, com tal leveza, que arrepia de insensibilidade.
- O próprio Boyle não sabe que rumo dar ao seu filme, se um drama com forte cunho social ou uma fábula romântica. São quase dois filmes distintos misturados no mesmo saco para agradar a gregos, troianos e votantes da Academia de Hollywood. Pelo lado do drama social, tudo é mostrado (como já referi anteriormente ) de forma superficial, ajudado por clichés e simplificações.
No lado da Fábula (um jovem que vai a um concurso televisivo, no qual todas as pergunta são sobre aspectos da sua vida, e ainda por cima sequenciais (ou seja, as perguntas feitas a Jamal surgem na ordem exacta em que as respostas cruzaram sua vida) só pode ser uma fábula), o argumento jamais consegue escapar da natureza esquemática de sua estrutura artificial, e além do mais Boyle filma tudo de uma forma hiper-realista, que trai todo o possível espírito de fábula romântica. O problema está na histeria visual de Danny Boyle, que constrói uma narrativa sem uma única ideia de cinema a servi-la. Para Boyle, o cinema não é diferente de um videoclipe.
- Como se isto já não bastasse, o filme ainda oferece-nos uma das cenas mais desagradáveis dos últimos anos. Uma cena, que numa comédia escatológica feita para adolescentes, já seria ridícula, num filme com uma abordagem supostamente mais séria… enfim.
Estou a falar da cena, em que o nosso protagonista esta preso num WC público, e mergulha nas fezes, na ânsia de conseguir um autografo do seu actor favorito. Existiram mil e umas maneiras diferentes, de fazer com que Jamal conseguisse o autógrafo do seu actor favorito, então porque assim?
Porque na visão de Boyle, uma criança coberta de fezes da cabeça aos pés, correndo para conseguir um autógrafo do seu actor favorito é algo engraçado. É Boyle no seu simplismo.
- Se levantarmos o “véu” do argumento, aquilo que temos por baixo é uma estrutura simplista, igual a 90% dos filmes do Bollywood (ou das telenovelas Latino-americanas), ou seja, temos – Um herói pobre - Órfão (ou que fica órfão logo no início do filme) – que passa por muitas, muitas, dificuldades – mas no final é recompensado, fica rico e com a rapariga gira.
- Este argumento simplista, é tratado com a ajuda de flashbacks, que na primeira vez em que se utiliza o recurso até chega a ser interessante, a sua repetição torna o filme enfadonho. Ou seja o que temos é basicamente isto: - o apresentador faz uma pergunta, em seguida temos um flashback explicando como o Jamal sabe a resposta a pergunta. E a cada nova pergunta, um novo flashback. E é assim até o final do filme, pergunta-flasback, pergunta-flashback.
- O filme e retractado com uma superficialidade aterradora. Todos os infortúnios ocorridos na vida do pobre Jamal são mostradas apenas com a profundidade necessária para fazer com que o telespectador sinta pena dele, apenas para identificar quem são os “bons” e os “maus”, E desta forma, fazer com que todos passem a torcer pelo rapazinho.
Recorrendo a todos os truques melodramáticos das novelas mexicanos ou indianas, para captar a atenção das plateias, Quem quer ser Bilionário? repete todos os clichés imagináveis: meninos pobres que passam por desgraças terríveis causadas por vilões muito (mas muito) maus (que cegam crianças com chumbo quente para que ganhem mais dinheiro nas ruas). A sua amiguinha Latika, tornasse-a prostituta nos bordéis de Mumbai e, o seu irmão ira juntar-se ao crime. E o filme vai assim, de desgraça em desgraça até a vitória final. Mas no fim Jamal tudo irá vencer. Os personagens são retratados como extremos de bondade ou maldade, sem espaço para um meio-termo. O intuito de todas as cenas é apenas criar o estereótipo/chliché telenovelista, da pessoa que passa por muitas dificuldades, mas que no final sera recompensada.
- Não existe a mínima contextualização. Por ex. a morte da mãe. Jamal vê mãe ser morta a paulada num conflito entre muçulmanos e hindus que chegam a queimar gente viva. Esta sequência, rápida como tudo, passa, obviamente, sem qualquer contextualização histórica ou religiosa sobre os conflitos étnicos, pelo total desinteresse de Boyle no assunto. A única “coisa” que interessa a Boyle naquela cena é “despachar” a mãe. Já não bastava o miúdo ser pobre, era necessário que ele também se tornasse órfão, a boa cartilha telenovelesca. A mãe é “despachada” com tal rapidez, com tal leveza, que arrepia de insensibilidade.
- O próprio Boyle não sabe que rumo dar ao seu filme, se um drama com forte cunho social ou uma fábula romântica. São quase dois filmes distintos misturados no mesmo saco para agradar a gregos, troianos e votantes da Academia de Hollywood. Pelo lado do drama social, tudo é mostrado (como já referi anteriormente ) de forma superficial, ajudado por clichés e simplificações.
No lado da Fábula (um jovem que vai a um concurso televisivo, no qual todas as pergunta são sobre aspectos da sua vida, e ainda por cima sequenciais (ou seja, as perguntas feitas a Jamal surgem na ordem exacta em que as respostas cruzaram sua vida) só pode ser uma fábula), o argumento jamais consegue escapar da natureza esquemática de sua estrutura artificial, e além do mais Boyle filma tudo de uma forma hiper-realista, que trai todo o possível espírito de fábula romântica. O problema está na histeria visual de Danny Boyle, que constrói uma narrativa sem uma única ideia de cinema a servi-la. Para Boyle, o cinema não é diferente de um videoclipe.
- Como se isto já não bastasse, o filme ainda oferece-nos uma das cenas mais desagradáveis dos últimos anos. Uma cena, que numa comédia escatológica feita para adolescentes, já seria ridícula, num filme com uma abordagem supostamente mais séria… enfim.
Estou a falar da cena, em que o nosso protagonista esta preso num WC público, e mergulha nas fezes, na ânsia de conseguir um autografo do seu actor favorito. Existiram mil e umas maneiras diferentes, de fazer com que Jamal conseguisse o autógrafo do seu actor favorito, então porque assim?
Porque na visão de Boyle, uma criança coberta de fezes da cabeça aos pés, correndo para conseguir um autógrafo do seu actor favorito é algo engraçado. É Boyle no seu simplismo.
Se você agir sempre com dignidade, pode não melhorar o mundo, mas uma coisa é certa: haverá na Terra um canalha a menos. Millor Fernandes